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RUY CASTRO
Da janela vê-se
RIO DE JANEIRO - Como até as
pirâmides do Egito já sabem, mal o
nosso Cristo foi eleito uma das sete
novas maravilhas do mundo começou o choro dos perdedores. Países
europeus que não tiveram seus monumentos escolhidos, um deles a
querida Espanha, atribuem a vitória do Cristo ao número de habitantes do Brasil.
É verdade, o Brasil tem mais habitantes que a Espanha. A China
também tem mais habitantes que a
Espanha e, por isso, elegeu sua Muralha. A Índia também tem mais habitantes que a Espanha e, por isso,
elegeu o Taj Mahal. Convém não insistir nesse argumento, porque o
Flamengo também tem mais torcedores do que a Espanha tem de habitantes, e nem por isso elegeu o
Obina como uma das novas maravilhas do mundo.
Em Paris, a Unesco criticou a escolha das maravilhas por não obedecer aos seus critérios científicos e
limitar-se a quem tinha acesso à internet ou ao telefone. Bem, a maior
parte da humanidade tem hoje
acesso à internet ou ao telefone. O
que a Unesco queria? Que só valessem os votos por pombo-correio?
Conclui-se que a Unesco, se já
existisse, não avalizaria também a
lista das sete maravilhas do mundo
antigo, porque esta seguiu critérios
ainda menos científicos. Foi feita
por um único eleitor: o matemático
bizantino Filon, que, em 200 a.C.,
viajou por secas e mecas para elaborá-la. Sabe-se lá se, naqueles idos,
Filon não levou por fora para eleger
o Colosso de Rhodes em vez de algum monumento na Mogúncia ou
na Antióquia?
O mundo ficou melhor ao reconhecer o Cristo como um belo monumento a visitar. Mas o que importa é que sua eleição representará turistas, divisas e empregos para
o Rio, que os merece, e ajudará a reverter um vergonhoso fato: o de que
todo o Brasil, grande e bobo como é,
recebe menos turistas por ano do
que a torre Eiffel.
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