São Paulo, sábado, 14 de julho de 2007

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RUY CASTRO

Da janela vê-se

RIO DE JANEIRO - Como até as pirâmides do Egito já sabem, mal o nosso Cristo foi eleito uma das sete novas maravilhas do mundo começou o choro dos perdedores. Países europeus que não tiveram seus monumentos escolhidos, um deles a querida Espanha, atribuem a vitória do Cristo ao número de habitantes do Brasil.
É verdade, o Brasil tem mais habitantes que a Espanha. A China também tem mais habitantes que a Espanha e, por isso, elegeu sua Muralha. A Índia também tem mais habitantes que a Espanha e, por isso, elegeu o Taj Mahal. Convém não insistir nesse argumento, porque o Flamengo também tem mais torcedores do que a Espanha tem de habitantes, e nem por isso elegeu o Obina como uma das novas maravilhas do mundo.
Em Paris, a Unesco criticou a escolha das maravilhas por não obedecer aos seus critérios científicos e limitar-se a quem tinha acesso à internet ou ao telefone. Bem, a maior parte da humanidade tem hoje acesso à internet ou ao telefone. O que a Unesco queria? Que só valessem os votos por pombo-correio?
Conclui-se que a Unesco, se já existisse, não avalizaria também a lista das sete maravilhas do mundo antigo, porque esta seguiu critérios ainda menos científicos. Foi feita por um único eleitor: o matemático bizantino Filon, que, em 200 a.C., viajou por secas e mecas para elaborá-la. Sabe-se lá se, naqueles idos, Filon não levou por fora para eleger o Colosso de Rhodes em vez de algum monumento na Mogúncia ou na Antióquia?
O mundo ficou melhor ao reconhecer o Cristo como um belo monumento a visitar. Mas o que importa é que sua eleição representará turistas, divisas e empregos para o Rio, que os merece, e ajudará a reverter um vergonhoso fato: o de que todo o Brasil, grande e bobo como é, recebe menos turistas por ano do que a torre Eiffel.


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