|
Próximo Texto | Índice
Editoriais
editoriais@uol.com.br
Mudança de ritmo
Redução do ímpeto do crescimento econômico e da inflação deve permitir que o BC reavalie ritmo da alta de juros nas próximas reuniões
Depois de uma fase de aquecimento, cujo ápice foi a alta superior a 3% no PIB do primeiro trimestre, têm se acentuado nas últimas semanas as evidências de desaceleração da economia.
Em grande medida o arrefecimento do ritmo de alta era esperado, tanto na atividade econômica
quanto na inflação. A recuperação
desde meados de 2009 foi uma
reação ao forte afrouxamento monetário e fiscal. Beneficiou-se também de medidas setoriais de incentivo, como as reduções de impostos, que induziram à antecipação do consumo de bens duráveis.
Depois de recuperar, no primeiro trimestre deste ano, o pico que
havia sido atingido em meados de
2008, a indústria apresentou estabilidade em abril e maio. Os indicadores antecedentes -produção
de automóveis, fluxo de caminhões nas estradas, entre outros-
indicam que o mês junho não será
muito diferente.
No varejo o quadro é análogo. O
primeiro trimestre teve crescimento de 4,5%, liderado pelas vendas
de bens duráveis, mas em abril
houve queda de 3%, seguida por
alta de apenas 1,4% em maio. A
julgar pelos dados preliminares
do comércio, junho deve apresentar estabilidade.
Os dados apontam para um
crescimento do PIB em torno de
1% no segundo trimestre, próximo
ao que se acredita ser um ritmo
sustentável, embora a demanda
continue crescendo mais rápido.
O mesmo fenômeno ocorre com
a inflação. Depois de fortes pressões nos primeiros meses do ano,
provocadas principalmente pelo
setor de alimentos e por correções
de preços industriais no atacado,
a tão esperada acomodação verificou-se nas últimas semanas.
Aqui, o quadro global ajudou: a
queda nas cotações de commodities reduziu o risco de aumentos
generalizados de preços nas cadeias industriais. No caso do aço,
por exemplo, a indústria tentou
aumentar os preços internos em
25%, mas agora já parece contentar-se com 10%.
Com isso, as projeções mais extremas, que colocavam o IPCA acima de 6% em 2010, perderam força. As expectativas do mercado recuaram para 5,5%. Com vistas a
2011, mantêm-se abaixo de 5%,
ancoradas na decisão do Banco
Central de iniciar o ciclo de aperto
da taxa básica em abril.
Trata-se de algo temporário, é
bom repetir, e espera-se que a economia volte a acelerar gradualmente nos próximos meses, favorecida pelo vigor no mercado de
trabalho e pelas condições ainda
propícias de crédito. O risco de
médio prazo para a inflação permanece, portanto.
Mesmo assim, à luz dos acontecimentos recentes e das novas incertezas sobre o quadro econômico global, provavelmente o Banco
Central estará sob menor pressão
nas próximas reuniões.
Uma vez que começou o ajuste
dos juros no tempo certo (tendo
em vista a contumaz falta de colaboração do lado da política fiscal),
a autoridade monetária poderá
agora avaliar a conveniência de
adotar um ritmo mais gradual de
alta daqui para a frente.
Próximo Texto: Editoriais: ECA, 20 anos
Índice
|