São Paulo, quarta-feira, 14 de julho de 2010

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Mudança de ritmo

Redução do ímpeto do crescimento econômico e da inflação deve permitir que o BC reavalie ritmo da alta de juros nas próximas reuniões

Depois de uma fase de aquecimento, cujo ápice foi a alta superior a 3% no PIB do primeiro trimestre, têm se acentuado nas últimas semanas as evidências de desaceleração da economia.
Em grande medida o arrefecimento do ritmo de alta era esperado, tanto na atividade econômica quanto na inflação. A recuperação desde meados de 2009 foi uma reação ao forte afrouxamento monetário e fiscal. Beneficiou-se também de medidas setoriais de incentivo, como as reduções de impostos, que induziram à antecipação do consumo de bens duráveis.
Depois de recuperar, no primeiro trimestre deste ano, o pico que havia sido atingido em meados de 2008, a indústria apresentou estabilidade em abril e maio. Os indicadores antecedentes -produção de automóveis, fluxo de caminhões nas estradas, entre outros- indicam que o mês junho não será muito diferente.
No varejo o quadro é análogo. O primeiro trimestre teve crescimento de 4,5%, liderado pelas vendas de bens duráveis, mas em abril houve queda de 3%, seguida por alta de apenas 1,4% em maio. A julgar pelos dados preliminares do comércio, junho deve apresentar estabilidade.
Os dados apontam para um crescimento do PIB em torno de 1% no segundo trimestre, próximo ao que se acredita ser um ritmo sustentável, embora a demanda continue crescendo mais rápido.
O mesmo fenômeno ocorre com a inflação. Depois de fortes pressões nos primeiros meses do ano, provocadas principalmente pelo setor de alimentos e por correções de preços industriais no atacado, a tão esperada acomodação verificou-se nas últimas semanas.
Aqui, o quadro global ajudou: a queda nas cotações de commodities reduziu o risco de aumentos generalizados de preços nas cadeias industriais. No caso do aço, por exemplo, a indústria tentou aumentar os preços internos em 25%, mas agora já parece contentar-se com 10%.
Com isso, as projeções mais extremas, que colocavam o IPCA acima de 6% em 2010, perderam força. As expectativas do mercado recuaram para 5,5%. Com vistas a 2011, mantêm-se abaixo de 5%, ancoradas na decisão do Banco Central de iniciar o ciclo de aperto da taxa básica em abril.
Trata-se de algo temporário, é bom repetir, e espera-se que a economia volte a acelerar gradualmente nos próximos meses, favorecida pelo vigor no mercado de trabalho e pelas condições ainda propícias de crédito. O risco de médio prazo para a inflação permanece, portanto.
Mesmo assim, à luz dos acontecimentos recentes e das novas incertezas sobre o quadro econômico global, provavelmente o Banco Central estará sob menor pressão nas próximas reuniões.
Uma vez que começou o ajuste dos juros no tempo certo (tendo em vista a contumaz falta de colaboração do lado da política fiscal), a autoridade monetária poderá agora avaliar a conveniência de adotar um ritmo mais gradual de alta daqui para a frente.


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