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ANTONIO DELFIM NETTO
Probabilidades
As opiniões dos analistas
sobre a evolução da conjuntura oscilam pendular e rapidamente do otimismo cauteloso
ao pessimismo defensivo.
Mark Twain disse uma vez que agradecia ao bom Deus ter-nos criado ignorantes e que se alegrava quando alguém desafiava os Seus planos a esse respeito, mas devia fazê-lo por sua própria conta e risco.
Tomar risco significa apresentar análises e prognósticos
que possam ser rejeitados pelos fatos dentro de um horizonte de tempo delimitado.
Por exemplo, é vazia a proposição que "a economia corre agora o risco de sofrer uma
recaída ("double dip") com a
probabilidade maior do que
50%". Sem dizer "quando",
nunca será rejeitada pela experiência.
A mesma coisa se aplica às
análises de cenários "alternativos" (de fato contrafactuais)
aos quais se atribuem probabilidades: o cenário A, onde
tudo dá certo, tem probabilidade de 20%; o B, onde o câmbio se desvaloriza, tem probabilidade 50%; e o C, onde o
câmbio se desvaloriza e a taxa
de juro real sobe, tem 30%.
Mas 20%, 50% e 30% de
quê? Como dar sentido físico e
operacional a tais estimativas
subjetivas, por mais competentes que sejam seus autores? E como controlá-las "ex
post facto"?
A originalidade desta crise é
que ela foi construída nos países desenvolvidos. Para mitigá-la eles substituíram a
demanda privada pela demanda pública, envolvendo-se em enormes desequilíbrios
fiscais.
O duplo problema é mais
complexo do que parece porque ele só pode ser resolvido
com um crescimento econômico mais robusto.
Se a retirada da demanda
pública não for compensada
pela volta da demanda privada, o PIB cairá e os deficit e
a dívida/PIB continuarão a
crescer.
A solução alternativa de aumentar os impostos debilitará
ainda mais o setor privado, reduzirá a produtividade do
sistema econômico e a taxa de
crescimento, sem nenhuma
garantia de que o desequilíbrio fiscal seja, de fato,
eliminado.
A única solução plausível é
a de um ajuste fiscal crível, inteligente e bem calibrado, capaz de construir expectativas
positivas que darão oportunidade à recuperação do "espírito animal" dos empresários e
estímulo ao emprego.
A teoria econômica sugere e
a história revela muitos casos
de choques fiscais acompanhados de desvalorização
cambial bem-sucedidos. Eles
produziram uma expansão do
PIB entre 18 e 24 meses pela retomada da demanda privada
interna e externa, ao mesmo
tempo em que resolveram o
problema fiscal.
ANTONIO DELFIM NETTO escreve às
quartas-feiras nesta coluna.
contatodelfimnetto@uol.com.br
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