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São Paulo, quinta-feira, 14 de julho de 2011

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KENNETH MAXWELL

"Liderando da retaguarda"

Os comentaristas conservadores nos EUA têm se divertido muito. Estão promovendo a ideia de que Barack Obama "lidera da retaguarda".
Tal ideia se originou de um artigo de Ryan Lizza para a revista "The New Yorker", em que atribui a expressão a um assessor do presidente, que a teria usado para descrever a agenda política de Obama.
O conceito é atribuído a Nelson Mandela. A liderança deve ser praticada à maneira de um pastor, que não fica em frente às ovelhas, mas administra seu rebanho da retaguarda. Não é novidade.
Mas a ideia de que Obama "lidera da retaguarda" é um presente para os conservadores, que acreditam que ela traduz o que há de errado no estilo de liderança do presidente.
Charles Krauthammer, do "Washington Post", argumenta que a expressão explica por que Obama hesitou em assumir a liderança quanto à Líbia, a sua interpretação errônea do Irã e o apaziguamento da Síria, e que o conceito é produto das universidades de elite, do ambiente do bairro em que Obama viveu em Chicago e de suas duas décadas como fiel de uma igreja na qual ouvia sermões contrários aos EUA.
Tudo isso, diz Krauthammer, explica as políticas de Obama, que são "tão improvisadas, erráticas e confusas quanto parecem". Mas o ataque à liderança do presidente vem em um momento perigoso. O Congresso precisa votar a elevação do limite atual para as dívidas federais. O acordo precisa surgir até 22 de julho.
Os republicanos no Congresso hesitam. A liderança republicana recusa aumentar impostos. Obama recusa os cortes de gastos, sobretudo em programas sociais, que os republicanos exigem.
O secretário do Tesouro, Timothy Geithner, afirmou que, caso não surja acordo, os danos serão "catastróficos" e o crédito do país estará ameaçado. O governo federal atingiu seu limite de dívidas em 16 de maio e, a menos que um acordo esteja em vigor até 2 de agosto, terá de começar a atrasar os pagamentos de seus funcionários, dos aposentados, dos prestadores de serviços ao governo e dos credores detentores de seus títulos.
Na Europa, a crise também passa por uma escalada. Após Grécia, Irlanda e Portugal, agora Espanha e Itália estão sob ameaça de contágio. Há preocupação de que bancos italianos não passem nos testes de solidez financeira.
O premiê Silvio Berlusconi e seu ministro da Economia, Giulio Tremonti, estão rompidos. A Itália paga juros 3% mais altos que os da Alemanha sobre suas dívidas em euros. A Espanha paga mais de 6% acima da taxa alemã. Só quatro países da zona do euro estão solventes: Alemanha, Áustria, Finlândia e Holanda.
Esta não é a melhor hora para liderar da retaguarda, nem nos EUA nem na Europa.

KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras nesta coluna.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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