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LOCAUTE NO CAMPO
O país assistirá nos próximos dias,
ao que parece, a outra tentativa de um
grupo altamente organizado de extrair favores e concessões duvidosas
do Planalto. Os ruralistas prometem
um caminhonaço em Brasília.
As ameaças não param na mobilização do protesto, de resto legítimo
numa democracia se ficar nos limites
da ordem e não ferir direitos alheios.
Algumas lideranças, mais inflamadas, convocam o setor a uma forma
peculiar de locaute, abandonando o
campo, negando-se a plantar. A pressão consistiria em comprometer a
meta oficial de ampliar a produção de
grãos, ameaça que seria levada a efeito se os produtores não obtiverem do
governo um farto perdão de dívidas.
Naturalmente, é muito difícil que
tais ameaças cheguem a se concretizar. Mas, como iniciativa política, são
altamente demagógicas e apenas tornam mais discutíveis as reivindicações postas sobre a mesa.
O governo já ensaia a contradança
habitual quando lida com interesses
organizados e com forte poder de
pressão no Congresso: como que se
prontifica a ceder. O ministro da
Agricultura, Pratini de Moraes, teria
sido orientado pelo Planalto a "não
esticar demais a corda".
O custo para o Tesouro Nacional,
ou seja, para o restante da sociedade,
das benesses reivindicadas pelos ruralistas, é estimado pelas suas próprias lideranças em até R$ 8 bilhões
(calculados os impactos apenas nos
cinco primeiros anos).
A justificativa para não pagar dívidas, como sempre, é apresentada de
forma curiosa: seria uma condição
para o desenvolvimento do setor
agrícola. No entanto, argumento
dessa espécie valeria para todos os setores da economia e para todos os
países do mundo. Mas é óbvio que,
se fosse aplicado de forma supostamente equânime, perdoando-se todas as dívidas, quebraria o sistema financeiro público e privado.
Não é aceitável que uns poucos se
beneficiem da generosidade oficial
nos termos em que estão sendo pleiteados. Tal generosidade teria um
custo que, aliás, só aumentaria o sacrifício da maioria silenciosa.
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