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São Paulo, domingo, 14 de setembro de 2003

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COM FMI OU SEM FMI

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou que o país enfrenta "de cabeça erguida" as negociações com o Fundo Monetário Internacional. Nesse momento, no entanto, o que mais interessa é o que se passa nas cabeças envolvidas no processo de negociação.
Do lado brasileiro, o que se presencia é a implantação de uma política econômica inclinada a ser mais realista do que o rei. Não se trata apenas de constatar a realização de um ajuste fiscal mais severo do que o acertado com o FMI ou de um aperto monetário exacerbado, com efeitos deletérios, como recessão e desemprego.
Hoje, economistas -e até mesmo o presidente do Fed (banco central dos EUA)- cada vez mais criticam modelos rígidos de política econômica, como o das metas de inflação inaugurado no governo FHC e seguido pela gestão Lula. O próprio FMI admite equívocos em relação à excessiva rigidez de fórmulas implantadas em diversas economias. Estudos da instituição demonstram que países obrigados a decretar moratórias não se viram "excomungados" da comunidade internacional, como muitos alardeavam e temiam. Não foram poucos os que encontraram novos caminhos para crescer.
Esse foi o caso, entre outros, da Rússia, que após sua moratória realizou rápido ajuste de suas contas externas, pagou parte de suas dívidas e hoje, com um nível alto de reservas, usufrui de uma avaliação de risco bem mais baixa do que a do Brasil.
No atual cenário, parece interessar também ao FMI demonstrar um pouco mais de flexibilidade. Nos últimos anos, sucessivos fracassos abalaram sua credibilidade, tanto nos mercados como na própria opinião conservadora nos EUA.
Com relação ao Brasil, o diretor-gerente da instituição já declarou que poderia até mesmo ser desnecessária a renovação do acordo. A declaração pode ser interpretada como uma conveniente sinalização de que o Fundo estaria disposto a dar uma demonstração mais convincente de sua capacidade -até aqui questionada- de levar países emergentes a superar crises com sucesso.
Podem-se imaginar pelo menos dois cenários. Na hipótese pessimista, o sucesso do Brasil ensejaria o abandono do Fundo justamente pelo fato de praticar uma política tão inflexível que dispensaria supervisão. Ou seja, o país receberia como prêmio a manutenção de um ajuste inspirado, mas não ditado, pelo FMI.
A hipótese mais otimista -e menos provável - é a de o governo brasileiro, realizado o difícil ajuste de transição, formular uma estratégia alternativa, buscando autonomia frente ao FMI e ao mercado financeiro internacional.
Dispensar o apoio do Fundo pode ser, portanto, uma má idéia se isso significar que a equipe econômica compensará a decisão com políticas ultra-ortodoxas com o intuito de manter sua credibilidade diante dos mercados. Nesse caso, talvez fosse melhor obter o aval da instituição e negociar condições mais flexíveis para a retomada do investimento público e do crescimento.



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