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COM FMI OU SEM FMI
O presidente Luiz Inácio Lula
da Silva declarou que o país enfrenta "de cabeça erguida" as negociações com o Fundo Monetário Internacional. Nesse momento, no entanto, o que mais interessa é o que se
passa nas cabeças envolvidas no processo de negociação.
Do lado brasileiro, o que se presencia é a implantação de uma política
econômica inclinada a ser mais realista do que o rei. Não se trata apenas
de constatar a realização de um ajuste fiscal mais severo do que o acertado com o FMI ou de um aperto monetário exacerbado, com efeitos deletérios, como recessão e desemprego.
Hoje, economistas -e até mesmo
o presidente do Fed (banco central
dos EUA)- cada vez mais criticam
modelos rígidos de política econômica, como o das metas de inflação
inaugurado no governo FHC e seguido pela gestão Lula. O próprio FMI
admite equívocos em relação à excessiva rigidez de fórmulas implantadas
em diversas economias. Estudos da
instituição demonstram que países
obrigados a decretar moratórias não
se viram "excomungados" da comunidade internacional, como muitos
alardeavam e temiam. Não foram
poucos os que encontraram novos
caminhos para crescer.
Esse foi o caso, entre outros, da
Rússia, que após sua moratória realizou rápido ajuste de suas contas externas, pagou parte de suas dívidas e
hoje, com um nível alto de reservas,
usufrui de uma avaliação de risco
bem mais baixa do que a do Brasil.
No atual cenário, parece interessar
também ao FMI demonstrar um
pouco mais de flexibilidade. Nos últimos anos, sucessivos fracassos
abalaram sua credibilidade, tanto
nos mercados como na própria opinião conservadora nos EUA.
Com relação ao Brasil, o diretor-gerente da instituição já declarou que
poderia até mesmo ser desnecessária
a renovação do acordo. A declaração
pode ser interpretada como uma
conveniente sinalização de que o
Fundo estaria disposto a dar uma demonstração mais convincente de sua
capacidade -até aqui questionada- de levar países emergentes a superar crises com sucesso.
Podem-se imaginar pelo menos
dois cenários. Na hipótese pessimista, o sucesso do Brasil ensejaria o
abandono do Fundo justamente pelo
fato de praticar uma política tão inflexível que dispensaria supervisão.
Ou seja, o país receberia como prêmio a manutenção de um ajuste inspirado, mas não ditado, pelo FMI.
A hipótese mais otimista -e menos provável - é a de o governo brasileiro, realizado o difícil ajuste de
transição, formular uma estratégia
alternativa, buscando autonomia
frente ao FMI e ao mercado financeiro internacional.
Dispensar o apoio do Fundo pode
ser, portanto, uma má idéia se isso
significar que a equipe econômica
compensará a decisão com políticas
ultra-ortodoxas com o intuito de
manter sua credibilidade diante dos
mercados. Nesse caso, talvez fosse
melhor obter o aval da instituição e
negociar condições mais flexíveis para a retomada do investimento público e do crescimento.
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