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ELIANE CANTANHÊDE
Dr. Paulo
SÃO PAULO - Diga-se tudo de Paulo Maluf, de superfaturamentos a contas na Suíça, mas não se negue a ele
duas qualidades: é muito inteligente
e, às vezes, bem divertido. Um tremendo cara-de-pau.
Maluf foi assim, Maluf mesmo, na
rodada de ontem da sabatina da Folha com os candidatos à Prefeitura de
São Paulo. Recitou a numeralha de
sempre, apresentou-se como engenheiro, crente em Deus, casado há 49
anos e o melhor prefeito da história
da cidade. "Não há uma só obra em
São Paulo nos últimos 25 anos que
não tenha a minha participação."
Sua claque aplaudia, entusiasmada.
Adversários? Discretos, preservaram-se para as perguntas da platéia.
Quanto ao dinheiro na Suíça e à
profusão de contas e documentos, ele
não esquenta a cabeça. É tudo preconceito contra "esse Salim".
Na sexta-feira, a Folha publicou
que Maluf fizera acordo com o PT
contra José Serra, e o próprio Maluf
acusou o autor da reportagem, Kennedy Alencar, de estar mentindo. Ontem, ficou a dúvida de quem é o mentiroso. O candidato do PP caiu de
pau em Serra. Aliás, no PSDB, em
FHC, em Covas e até em Malan. E
preservou a petista Marta Suplicy.
Para ser exata, Maluf fez rasgados
elogios a Lula, apoiou o bilhete único
e -ao contrário do que fazia- livrou a cara da prefeita na construção
da monumental dívida paulistana.
Segundo ele, 95% foram culpa de
Malan e Serra (ministros da Fazenda
e do Planejamento no governo FHC)
e só 5% "a Marta que fez".
Pelo Datafolha, Serra tem 37%,
Marta, 33%, e Maluf, que caiu para
12%, está praticamente fora do segundo turno. Se parece morto para a
prefeitura, deve virar um fantasma
contra Serra. Só falta combinar com
seu próprio eleitorado.
Na entrevista de ontem, ele falou
muito sobre o passado e pouco sobre
o futuro. E deixou a forte sensação de
que, se 73% de seus eleitores tendem
para Serra a partir de outubro, ele vai
no caminho oposto. Aliás, ele até se
esquivou de chamar a prefeita de
"Dona Marta" -a velha provocação
malufista que a tucanada já herdou.
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