São Paulo, terça-feira, 14 de setembro de 2004

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TENDÊNCIAS/DEBATES

Flores diferentes que enfeitam o jardim

MARIA LÚCIA ALCKMIN

A 4ª Semana de Solidariedade do Estado de São Paulo, que será realizada de hoje a 21 de setembro, tem, neste ano, o objetivo de levar a população a refletir e a fazer ações afirmativas em favor das pessoas com qualquer tipo de deficiência.
Dados do último censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) afirmam que 14,5% da população brasileira tem alguma deficiência. São 24 milhões de pessoas; 4 milhões no Estado de São Paulo.
Alguns têm condições financeiras, estrutura familiar para a inserção no convívio social. Outros não têm a mesma sorte e necessitam de apoio. Todos merecem respeito. Merecem dignidade. Afinal, somos heterogêneos. O mundo é composto por pessoas diferentes, que, no dia-a-dia, têm de exercer a fascinante arte da convivência. Respeito é a palavra. Não se pode diminuir o outro, impedir o seu acesso à vida profissional, social. Não se pode negligenciar no acolhimento a quem mais precisa de atenção, apoio, oportunidade.
Muitas empresas e organizações já perceberam a necessidade de abrir postos de trabalho àqueles que têm alguma deficiência. O resultado é emocionante.


Respeito é a palavra. Não se pode diminuir o outro, impedir o seu acesso à vida profissional, social


A Estação Especial da Lapa - Centro de Convivência e Desenvolvimento Humano, "menina dos olhos" da minha querida mestra dona Lila Covas, atende cerca de 1.800 usuários todos os dias. Trata-se de um espaço modelo, referência em toda a América Latina, com cursos de iniciação profissional, esportes adaptados, oficinas culturais, entre outros. Um lugar especial, em que a pessoa com deficiência se sente amada, incluída em uma sociedade que não lhe pode negar espaço. Há outras tantas entidades que se multiplicam neste imenso Estado, entidades que se notabilizaram na linda arte de fazer o bem. Precisam de apoio. Apoio financeiro e apoio de trabalho voluntário. Precisam de atenção.
Esse é nosso intento. Fazer com que, em cada cidade deste Estado, pessoas visitem as entidades mais próximas e ajudem. Além disso, que o preconceito dê lugar ao amor. Em plena era tecnológica, informacional, não é possível que qualquer pessoa sofra discriminação; não se pode admitir que a falta de alguma habilidade signifique o alijamento social.
É preciso unir as pessoas de bem para essa grande causa. Estamos abrindo a semana hoje com uma teleconferência envolvendo todas as escolas da rede pública do Estado. Isso para ensinar desde cedo a arte do respeito ao outro. Haverá eventos esportivos e cursos oferecidos pela Estação Especial da Lapa durante toda a semana, com a supervisão da Divisão de Medicina e Reabilitação do Hospital das Clínicas. No dia 15, terá início a mostra de fotografias "Imagem da Inclusão", na estação Sé do metrô, com trabalhos que registram a capacidade de superação, a força de vontade e a alegria de viver.
Nas 14 entidades da capital que atendem pessoas carentes com deficiência, haverá ações de apoio e eventos informativos e culturais. Em todo o Estado, as presidentes de fundos municipais também mobilizarão suas comunidades para essa causa. Nas praças de pedágio, terminais de metrô e da CPTM, serão distribuídos folhetos com orientações sobre como colaborar com essas pessoas. No dia 18 de setembro, dom Fernando Figueiredo e padre Marcelo Rossi celebrarão uma missa especial no Santuário do Terço Bizantino para agradecer a Deus pela vida e pela superação de todos esses nossos irmãos.
Sabemos que a semana não é uma solução definitiva. Não é um fim em si, mas um começo, uma semente, uma chama que, esperamos, permanecerá acesa em cada coração.
É nosso objetivo mostrar à sociedade que todos os indivíduos podem desenvolver atividades com eficiência. É preciso garantir a todos o direito à educação, ao lazer, ao trabalho, ao esporte, à vida. Respeitando as diferenças, valorizando-as, entendendo que cada ser humano é único, singular, e que a riqueza do mundo reside nessa diversidade.
Quem convive diariamente com esses seres especiais sabe que, quando devidamente estimulados, inseridos no convívio social, são capazes de grandes atitudes, revelam-se exímios criadores, surpreendem. Que todos sejam capazes de ser solidários a essa causa, que bem poderia ter como norte as palavras do escritor alemão Goethe, que disse: "É na limitação que se revela o mestre".
Boa semana a todos, e tenham a certeza de que aqueles que saírem um pouco da rotina e experimentarem a arte da solidariedade, visitando entidades, acolhendo pessoas, ensinando aos filhos o respeito, abrindo as portas da sua empresa às pessoas com deficiência, estarão semeando para que o jardim da vida esteja mais florido, com flores sempre diferentes.

Maria Lúcia Alckmin, 53, primeira-dama do Estado de São Paulo, é presidente do Fundo Social de Solidariedade.


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