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CLÓVIS ROSSI
A pobreza e a pouca vergonha
COPENHAGUE - Quer ver pobreza na Dinamarca? Venha a Copenhague no dia 24. É o dia da inauguração do Museu da Pobreza, o primeiro do mundo.
Sim, Museu da Pobreza, "para
que os jovens possam conhecer como ela era quando existia", diz o senador Eduardo Suplicy (PT-SP),
em e-mail em que comunica a inauguração. Por que na Dinamarca?
Porque o país considera erradicada
a pobreza absoluta.
É uma humilhação, claro que não
intencionada, relegar a pobreza a
coisa de museu justo na hora em
que a Dinamarca recebe a primeira
visita de um presidente do Brasil,
país de tamanha pobreza.
A Dinamarca acaba sendo um
desmentido cabal à crítica mais recorrente sobre exageros, supostos
ou reais, do modelo de Estado de
Bem-Estar Social.
Dizem os críticos que as prestações sociais são tão generosas que
desestimulam o cidadão desempregado a procurar emprego, porque
recebe, sem trabalhar, um subsídio
tão alto que fica próximo do salário,
se trabalhasse.
Aqui, o desemprego é praticamente residual (3,3%).
Melhor ainda: estão conseguindo
trabalho até os "inempregáveis",
aqueles que carecem da idade e das
habilitações mais demandadas pelo
mercado na economia moderna.
O senador Suplicy, um eterno
poeta e sonhador, completa seu
e-mail com os seguintes votos:
"Quem sabe o presidente Lula
possa vislumbrar em que época o
Brasil considerará a inauguração do
Museu da Pobreza para que nossos
jovens possam conhecer como era
quando ela ainda vigorava em nosso
país".
Não vai dar, senador, enquanto a
maioria da elite política brasileira
participar de e/ou patrocinar cenas
explícitas de pouca vergonha como
as que você mesmo testemunhou
no Senado.
A sordidez política é a mãe de todas as misérias.
crossi@uol.com.br
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