São Paulo, sexta-feira, 14 de setembro de 2007

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CLÓVIS ROSSI

A pobreza e a pouca vergonha

COPENHAGUE - Quer ver pobreza na Dinamarca? Venha a Copenhague no dia 24. É o dia da inauguração do Museu da Pobreza, o primeiro do mundo. Sim, Museu da Pobreza, "para que os jovens possam conhecer como ela era quando existia", diz o senador Eduardo Suplicy (PT-SP), em e-mail em que comunica a inauguração. Por que na Dinamarca? Porque o país considera erradicada a pobreza absoluta.
É uma humilhação, claro que não intencionada, relegar a pobreza a coisa de museu justo na hora em que a Dinamarca recebe a primeira visita de um presidente do Brasil, país de tamanha pobreza.
A Dinamarca acaba sendo um desmentido cabal à crítica mais recorrente sobre exageros, supostos ou reais, do modelo de Estado de Bem-Estar Social.
Dizem os críticos que as prestações sociais são tão generosas que desestimulam o cidadão desempregado a procurar emprego, porque recebe, sem trabalhar, um subsídio tão alto que fica próximo do salário, se trabalhasse.
Aqui, o desemprego é praticamente residual (3,3%). Melhor ainda: estão conseguindo trabalho até os "inempregáveis", aqueles que carecem da idade e das habilitações mais demandadas pelo mercado na economia moderna.
O senador Suplicy, um eterno poeta e sonhador, completa seu e-mail com os seguintes votos: "Quem sabe o presidente Lula possa vislumbrar em que época o Brasil considerará a inauguração do Museu da Pobreza para que nossos jovens possam conhecer como era quando ela ainda vigorava em nosso país".
Não vai dar, senador, enquanto a maioria da elite política brasileira participar de e/ou patrocinar cenas explícitas de pouca vergonha como as que você mesmo testemunhou no Senado.
A sordidez política é a mãe de todas as misérias.


crossi@uol.com.br

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