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Arrogância de sempre
Relações de representantes do PT com a imprensa mais uma vez repetem, no caso Erenice Guerra, um padrão inaceitável de conduta
A candidata Dilma Rousseff
reagiu com expressões veementes, no debate Folha/Rede TV!
deste último domingo, a uma pergunta sobre as recentes denúncias
de tráfico de influência envolvendo o filho de sua principal assessora, e atual ministra da Casa Civil, Erenice Guerra.
"Eu não concordo, não vou
aceitar, que se julgue a minha pessoa baseado no que aconteceu
com o filho de uma ex-assessora
minha." Dirigindo-se diretamente
à jornalista, prosseguiu. "Você
acha correto responsabilizar o diretor-presidente da tua empresa
pelo que foi feito pelo filho de um
funcionário dele?"
Beneficiada pela regra que proíbe réplicas dos jornalistas, Dilma
Rousseff não apenas se esquivou
de tratar dos pormenores do caso,
como também fez uso de um subtexto frequente nas relações de
petistas com seus entrevistadores.
Com efeito, é comum que tratem o jornalista não como alguém
investido da função democrática e
pública de questioná-los sobre temas incômodos, mas como uma
espécie de funcionário a serviço
dos donos de uma empresa.
Perguntar sobre um escândalo
envolvendo a administração pública e os recursos do contribuinte
não seria, segundo essa visão, defender os interesses da sociedade
contra os abusos dos governantes,
mas simplesmente seguir as ordens de algum chefe.
Todavia, quem segue ordens de
um chefe, quem mistura interesses privados a questões de ordem
pública, quem age de forma subserviente, quem conspira e quem
se esconde não é o jornalista nem
os que administram a empresa da
qual faz parte.
O comportamento é, isso sim, típico de quem sabe ter à sua volta
uma corte invertebrada de assessores, militantes, bajuladores e
negocistas, incapazes de qualquer
tipo de manifestação crítica.
Quem submete o interesse público às gestões da conveniência
privada é o lobista que, valendo-se de parentesco direto com alguém do governo, recebe remuneração para assessorar empresas
no intuito de abocanhar algum
contrato.
Seria inconcebível, em qualquer país que já tenha abandonado o estágio de republiqueta de
bananas, uma situação em que o
filho de uma ministra de Estado
atende, do seu próprio balcão, aos
interessados em fazer negócios
com o governo.
Seria também inconcebível, em
qualquer país que não vive sob
um Estado policial, uma situação
em que funcionários do governo
violam o sigilo fiscal de familiares
de um líder da oposição.
É inaceitável, por fim, que numa estrutura marcada pela indicação pessoal -de que é símbolo a
própria invenção, por Lula, da
candidata Dilma-, todas as personagens com real poder de decisão sobre o que acontece no governo insistam, como acontece há
anos no Brasil, em dizer que "nada sabiam" sobre as atividades de
seus mais diretos assessores.
E que repitam, a cada escândalo, a promessa de que tudo será investigado com rigor. Nada seria
nem sequer revelado, não fosse a
imprensa exercer o papel que lhe
cabe e contra o qual se insurgem
com a arrogância de sempre.
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