São Paulo, quarta-feira, 14 de setembro de 2011

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RUY CASTRO

Milagre na Bienal

RIO DE JANEIRO - Acredite ou não, escritores são humanos e, por mais bem-sucedidos, invejosos. O sucesso de um concorrente, dizia Nelson Rodrigues, dói fisicamente como uma canivetada. Inveja-se o prestígio, invejam-se as vendas, a mídia, as mulheres e até o estilo uns dos outros. O próprio Nelson invejava o prestígio de Guimarães Rosa; Oscar Wilde, o de Bernard Shaw; Gertrude Stein, o de James Joyce.
Eu, por exemplo, invejo qualquer pessoa que escreva depressa, sem precisar pensar muito e sem sofrer, e produza uma obra-prima ou um texto decente, o que vier primeiro. Mas, na Bienal do Livro que se encerrou domingo no Rio, descobri outra qualidade para invejar: a capacidade de certos autores para autografar livros a um ritmo alucinante, quase irreal. Um deles, o padre Marcelo Rossi.
Segundo os jornais, das 11h20 às 17h30 de quarta-feira passada, padre Marcelo autografou 1.200 livros no estande de sua editora. De tanto assinar e cumprimentar leitores, sua mão inchou de tal forma que teve de ser enfaixada por paramédicos e a sessão, encerrada. Mas, como a multidão não arredasse pé, padre Marcelo convenceu seu público a trocar o autógrafo e o aperto de mão por uma bênção individual, donde distribuiu 6.000 bênçãos entre 17h30 e 19h40. Não é invejável?
Vejamos agora. Das 11h20 às 17h30, são 370 minutos. Significa que, durante seis horas e dez minutos, padre Marcelo autografou 3,2 livros por minuto -sem parar. Equivale a um livro autografado (e uma mão apertada) a cada 18,7 segundos. É digno de The Flash. Já as bênçãos, só com ajuda da velocidade divina. Das 17h30 às 19h40, são 130 minutos. Significa que, com mão enfaixada e tudo, padre Marcelo distribuiu 46 bênçãos individuais por minuto. Uma bênção a cada 1,3 segundo! Milagre?
Os números são da editora de padre Marcelo. E depois tem gente que não acredita no sobrenatural.


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