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BORIS FAUSTO
Temas da eleição
Ao longo da campanha eleitoral
do primeiro turno, um tema foi
suscitado, aberta ou sub-repticiamente: o da falta de preparo do candidato
do PT, por ter uma educação formal
limitada. Foi um dos pontos baixos de
uma campanha com tantos aspectos
positivos. Nos termos em que foi colocada, a discussão resultou em um
grande equívoco, dando origem a críticas preconceituosas de um lado e a
alegações mal colocadas de outro.
De fato, não faz sentido afirmar que
a posse de um diploma ou título universitário seja um requisito mínimo
para que qualquer pessoa exerça funções públicas, mesmo as mais elevadas. Mas isso não significa jogar pela
janela as virtudes da educação formal,
como paradoxalmente se tornou comum em alguns meios universitários
partidarizados. Se fosse assim, não teríamos de nos preocupar com os baixos níveis de escolaridade da população brasileira, apesar dos progressos
quantitativos e qualitativos realizados
em anos recentes, nem teríamos por
que insistir na tecla de que escolhas
eleitorais dotadas de maior racionalidade dependem de melhores padrões
educativos.
A educação formal em níveis elevados não é um requisito incontornável
para o exercício de uma função pública eletiva. Mas ela não só proporciona
conhecimentos científicos especializados, indispensáveis ao exercício de determinadas profissões, como pode
proporcionar algo talvez mais importante: uma capacidade cognitiva que
constitui condição básica para
apreender conceitos e para estabelecer
relações de conteúdo acerca das atividades humanas e do mundo que nos
cerca.
Dentre os vários instrumentos postos à disposição de quem frequentou o
ensino superior ou obteve títulos
-estou falando obviamente das boas
faculdades-, encontra-se a leitura
sistemática que, se bem encaminhada,
conduz a um hábito extremamente
importante para um comportamento
reflexivo. Que o digam os autodidatas,
leitores fervorosos, que tiveram de
percorrer um árduo e às vezes truncado caminho para avançar culturalmente.
Mas a questão das virtudes e deficiências de candidatos a cargos públicos eletivos, não se esgota aí. Além do
conhecimento, o exercício de tais cargos exige outras virtudes, entre elas, as
que dizem respeito à sensibilidade social e à capacidade de gestão.
No que diz respeito à sensibilidade
social, convém lembrar que ela se forma no curso de uma vida, na biografia
de cada um de nós, pela via dos circuitos de socialização, sejam eles os bancos escolares, os sindicatos, as igrejas,
a mídia etc. Mas, para que essa virtude
não resvale na demagogia, é preciso
que ela se traduza em políticas públicas adequadas cuja complexidade é
conhecida.
Quanto à capacidade de gestão, não
há como fugir ao truísmo de que ela só
pode ser aferida pela avaliação positiva ou negativa de um desempenho
prévio. Quando não há essa possibilidade, embarcamos no terreno da intuição, da aposta emotiva, que pode
ser compreensível, mas não é um critério razoavelmente seguro.
Boris Fausto escreve às segundas-feiras nesta
coluna.
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