São Paulo, sábado, 14 de outubro de 2006

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CLÓVIS ROSSI

A miséria também do debate

SÃO PAULO - A "experiência" de Fernando Collor, louvada pelo presidente Lula, parece ter sido importada pela campanha lulo-petista. Lembra-se de 1989, quando Collor fez o terrorismo de dizer que, se Lula ganhasse, a classe média teria que dividir seus apartamentos com os pobres?
Bom, a propaganda que diz que Geraldo Alckmin, se eleito, acabaria com o Bolsa Família tem idêntico DNA. Mesmo que Alckmin quisesse fazê-lo, quisesse aumentar para cem anos a idade mínima de aposentadoria ou outras maldades do gênero, nem ele nem nenhum outro presidente (nem Margaret Thatcher, tida como símbolo-mór do liberalismo) teriam coragem de fazê-lo. Programas que rendem votos jamais são cortados pelos políticos (Thatcher, aliás, até aumentou o "sopão para os pobres").
De todo modo, o terrorismo lulo-petista pôs o Bolsa Família no centro da campanha, o que ajuda a desnudar as misérias da pátria. Vejamos o que é o Bolsa Família pela palavra de frei Betto, lulista convicto, apesar de meio decepcionado, e com toda uma história de luta a favor dos miseráveis: Em entrevista ao jornal italiano "Corriere della Sera", reproduzida dias atrás por Merval Pereira (colunista de "O Globo"), frei Betto disse que o Bolsa Família é "assistencialismo puro, que não muda a estrutura social e faz recair rapidamente na miséria".
Só falta agora o lulo-petismo espalhar que Betto quer acabar com o Bolsa Família. Ninguém que não seja um tarado completo quer, porque, na miséria tupiniquim, é vital. Mas os que ainda preservam a capacidade de pensar acima da propaganda reconhecem a sua gritante insuficiência.
Mas o Brasil é tão miserável, especialmente no debate político, que não se avança um milímetro no que é mais importante: como mudar a estrutura social de forma a superar o assistencialismo.


crossi@uol.com.br

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