São Paulo, domingo, 14 de outubro de 2007

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CLÓVIS ROSSI

Nobel, da Paz e da Guerra

SÃO PAULO - Visto o ganhador do Nobel da Paz deste ano, dá para dizer que, no ano 2000, o eleitorado norte-americano trocou alguém (no caso, Al Gore) capaz de ganhá-lo por alguém (George Walker Bush) que certamente ganharia o Prêmio Nobel da Guerra, se houvesse um.
Errou o eleitorado? Não. O eleitorado jamais erra. Pode ser manipulado, mas o voto vai para quem consegue fazer o votante acreditar que é o melhor para ele ou, no caso dos mais conscientes, para o país.
Em geral, aliás, não é nem o melhor, mas o menos ruim, considerada a descrença nos políticos que é a grande marca dos últimos muitos anos.
No caso dos EUA-2000 ainda houve uma decisão judicial a embaçar mais o resultado. Mas, de uma forma ou de outra, Gore teve muito menos votos do que se supõe que deveria ter quem chegaria a um Nobel, poucos anos depois.
Fica a dúvida: o que faria Al Gore, se tivesse sido eleito, a partir dos ataques terroristas às torres gêmeas e ao Pentágono em Washington, ocorridos menos de um ano depois de sua derrota?
Hoje, é fácil dizer que atacar o Iraque foi um erro colossal, que só fez piorar o que já era horrível, sem, em contrapartida, aumentar a segurança no Ocidente, no Oriente, no Norte ou no Sul.
Mas, em seguida aos ataques, Bush deu aos norte-americanos o que eles pediam (sangue. Dos outros, claro, a começar pelo Afeganistão). Visto, de todo modo, que o sangue derramado está sendo em vão, o que faria um Nobel da Paz com o terrorismo de fundo falsamente religioso? Ou, posto de outra forma: se tivesse sido o presidente do 11 de Setembro, Gore ganharia o Nobel da Paz em algum momento?
O fato é que não se conhece alguma proposta, nem nos Estados Unidos nem fora dele, capaz de nocautear o terrorismo e, de quebra, dar a seu autor o Nobel da Paz.

crossi@uol.com.br


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