|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CLÓVIS ROSSI
Nobel, da Paz e da Guerra
SÃO PAULO - Visto o ganhador do
Nobel da Paz deste ano, dá para dizer que, no ano 2000, o eleitorado
norte-americano trocou alguém
(no caso, Al Gore) capaz de ganhá-lo por alguém (George Walker
Bush) que certamente ganharia o
Prêmio Nobel da Guerra, se houvesse um.
Errou o eleitorado? Não. O eleitorado jamais erra. Pode ser manipulado, mas o voto vai para quem
consegue fazer o votante acreditar
que é o melhor para ele ou, no caso
dos mais conscientes, para o país.
Em geral, aliás, não é nem o melhor,
mas o menos ruim, considerada a
descrença nos políticos que é a
grande marca dos últimos muitos
anos.
No caso dos EUA-2000 ainda
houve uma decisão judicial a embaçar mais o resultado. Mas, de uma
forma ou de outra, Gore teve muito
menos votos do que se supõe que
deveria ter quem chegaria a um Nobel, poucos anos depois.
Fica a dúvida: o que faria Al Gore,
se tivesse sido eleito, a partir dos
ataques terroristas às torres gêmeas e ao Pentágono em Washington, ocorridos menos de um ano depois de sua derrota?
Hoje, é fácil dizer que atacar o
Iraque foi um erro colossal, que só
fez piorar o que já era horrível, sem,
em contrapartida, aumentar a segurança no Ocidente, no Oriente,
no Norte ou no Sul.
Mas, em seguida aos ataques,
Bush deu aos norte-americanos o
que eles pediam (sangue. Dos outros, claro, a começar pelo Afeganistão). Visto, de todo modo, que o
sangue derramado está sendo em
vão, o que faria um Nobel da Paz
com o terrorismo de fundo falsamente religioso? Ou, posto de outra
forma: se tivesse sido o presidente
do 11 de Setembro, Gore ganharia o
Nobel da Paz em algum momento?
O fato é que não se conhece alguma proposta, nem nos Estados Unidos nem fora dele, capaz de nocautear o terrorismo e, de quebra, dar a
seu autor o Nobel da Paz.
crossi@uol.com.br
Texto Anterior: Editoriais: Brasil sem Nobel Próximo Texto: Brasília - Eliane Cantanhêde: Do temporário ao temerário Índice
|