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LUIZ FERNANDO VIANNA
O V da questão
RIO DE JANEIRO - Na última
quinta-feira, após a paralisação dos
trens na Central do Brasil e o disparo de bombas de gás lacrimogêneo e
balas de borracha pela polícia contra os passageiros, o governador do
Rio, Sérgio Cabral, disse que era
preciso "verificar" os problemas da
Supervia, concessionária do serviço, e prender os "vagabundos" responsáveis pelos supostos atos de
"vandalismo" que interromperam a
circulação de composições.
Político que cresceu no cenário
fluminense graças mais a ações de
gabinete, como as tomadas nos oito
anos à frente da Assembleia Legislativa, do que a movimentos de rua,
Cabral não é um grande orador, e
produziu, involuntariamente, uma
aliteração significativa.
Para o governo estadual, como
deixou expresso o secretário de
Transportes, Júlio Lopes, a Supervia é "parceira". Tão parceira que,
nos 11 anos em que gere a malha ferroviária, recebeu do erário R$ 285
milhões em investimentos na frota
e deve receber mais R$ 500 milhões
até 2016 -afora um financiamento
do Banco Mundial obtido pela gestão Cabral.
O Estado alega que investe por
ser o dono do patrimônio. Mas em
nome de quem? Da população, supõe-se. Mas, em pelo menos dois
terços dos 159 trens, a população
sacode em máquinas envelhecidas,
sem ar condicionado, ainda fica
sem esclarecimentos quando uma
pane acontece e não recebe logo o
dinheiro da passagem de volta pela
viagem não completada.
Cabral, usuário dos ventos do Leblon e de uma mansão de veraneio
na litorânea Mangaratiba, verbaliza
sua vã filosofia ao povo: se não há
serviço bom, não convém vandalizar o que, ao menos, sobrevive. Pois
no último sábado, no Galeão lotado,
viajantes de avião quebraram dois
monitores. Não houve viva voz que
vociferasse contra os "vândalos".
Questão de vício.
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