São Paulo, quarta-feira, 14 de outubro de 2009

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LUIZ FERNANDO VIANNA

O V da questão

RIO DE JANEIRO - Na última quinta-feira, após a paralisação dos trens na Central do Brasil e o disparo de bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha pela polícia contra os passageiros, o governador do Rio, Sérgio Cabral, disse que era preciso "verificar" os problemas da Supervia, concessionária do serviço, e prender os "vagabundos" responsáveis pelos supostos atos de "vandalismo" que interromperam a circulação de composições.
Político que cresceu no cenário fluminense graças mais a ações de gabinete, como as tomadas nos oito anos à frente da Assembleia Legislativa, do que a movimentos de rua, Cabral não é um grande orador, e produziu, involuntariamente, uma aliteração significativa.
Para o governo estadual, como deixou expresso o secretário de Transportes, Júlio Lopes, a Supervia é "parceira". Tão parceira que, nos 11 anos em que gere a malha ferroviária, recebeu do erário R$ 285 milhões em investimentos na frota e deve receber mais R$ 500 milhões até 2016 -afora um financiamento do Banco Mundial obtido pela gestão Cabral.
O Estado alega que investe por ser o dono do patrimônio. Mas em nome de quem? Da população, supõe-se. Mas, em pelo menos dois terços dos 159 trens, a população sacode em máquinas envelhecidas, sem ar condicionado, ainda fica sem esclarecimentos quando uma pane acontece e não recebe logo o dinheiro da passagem de volta pela viagem não completada.
Cabral, usuário dos ventos do Leblon e de uma mansão de veraneio na litorânea Mangaratiba, verbaliza sua vã filosofia ao povo: se não há serviço bom, não convém vandalizar o que, ao menos, sobrevive. Pois no último sábado, no Galeão lotado, viajantes de avião quebraram dois monitores. Não houve viva voz que vociferasse contra os "vândalos". Questão de vício.


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