São Paulo, quinta-feira, 14 de outubro de 2010

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CARLOS HEITOR CONY

Estrada de Damasco

RIO DE JANEIRO - Doutores da alma humana garantiram que nunca é tarde para a conversão súbita. O caso mais famoso foi o de Saul de Tarso, que caiu literalmente do cavalo na estrada de Damasco e se transformou em são Paulo, apóstolo dos gentios e nome de um Estado da Federação brasileira.
Acompanho emocionado o grau de religiosidade que baixou nos dois candidatos. Vi as fotos de Serra beijando um terço e de Dilma fazendo o sinal da cruz durante a missa na Basílica de Aparecida, que ambos visitaram para homenagear a padroeira do Brasil. A Constituição federal e os bons costumes permitem a prática de qualquer religião, inclusive a prática de não ter religião nenhuma, como é o caso do cronista, que teve uma estrada de Damasco às avessas.
Vamos aos fatos e às lendas. Num filme de John Ford ("O Homem que Matou o Facínora"), o editor do jornal aconselha ao seu redator: "Se há um fato e uma lenda, publique a lenda".
A lenda não atinge o Zé Serra, que provavelmente já visitou o santuário em outras ocasiões, como governador do Estado. E nunca se marcou por uma atitude pública contrária aos valores religiosos. O mesmo não acontece com Dilma, que tem um passado de militante petista próxima à periferia marxista, que sempre considerou a religião como o ópio do povo.
Os tempos mudam, e nós mudamos com o tempo, disse Lotário 1º, imperador do Ocidente -parece também uma citação do poeta Virgílio. Nada demais que, às vésperas da eleição presidencial, num país em que a maioria do povo tem uma religião qualquer, os candidatos procurem demonstrar que também cultivam uma fé e cumprem os seus ritos básicos. Tudo bem.
FHC comeu uma buchada de bode durante sua campanha, cerimônia menos light e de difícil digestão.


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