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ELIANE CANTANHÊDE
Pânico de resultados
BRASÍLIA - A crise financeira deu
uma cambalhota e virou econômica. Ou seja, saiu do admirável mundo dos papéis e chegou à vida real,
onde empresas produzem e empregam, pessoas trabalham, compram,
moram, comem -e votam.
Se os EUA, a Europa e o próprio
Brasil investiram trilhões de dólares, euros e reais nos bancos, agora
passam a investir no setor produtivo. O movimento é sincronizado.
Nos EUA, os US$ 700 bi arregimentados para o sistema financeiro
vão ser desviados para estimular o
crédito, e democratas e republicanos se aliam para salvar montadoras como a poderosa GM, que está
mal das pernas. Ops! Das rodas.
No Brasil, o governo federal tinha
suavizado o compulsório dos bancos, mas eles deram de ombros.
Agora a estratégia é outra. O Banco
do Brasil destinou uns R$ 4 bi para
as empresas, e a CEF abre uma linha de crédito de R$ 2 bi para arejar
o comércio varejista.
Em São Paulo, o tucano José Serra e o petista Guido Mantega se
unem para jogar R$ 4 bi para financiar a compra de veículos em todo o
país. E, em Minas, Aécio Neves colocou R$ 470 milhões à disposição
das empresas, via empréstimos, e
ampliou o prazo dos impostos.
O que se vê é um "pânico de resultados". Democratas, republicanos,
tucanos e petistas "somam esforços" para que o mundo não caia no
precipício. E isso remete ao artigo
"A crise perversa", do embaixador
José Viegas, publicado anteontem
na Folha (pág. A3). Em resumo, ele
diz que o "centro do capitalismo"
suga recursos da "periferia do capitalismo" e depois exporta a crise
para a periferia. Ou seja, para os
emergentes, caso do Brasil.
Tudo isso será discutido amanhã
na reunião do G20 (centros e periferias capitalistas), em Washington. Mas, como apontou Viegas, os
que criaram a crise são os mesmos
que vão sugerir e manejar os remendos. Como não há alternativa
ao capitalismo, pai e mãe da "crise
perversa", não há aos seus gênios.
elianec@uol.com.br
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