São Paulo, sexta-feira, 14 de novembro de 2008

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ELIANE CANTANHÊDE

Pânico de resultados

BRASÍLIA - A crise financeira deu uma cambalhota e virou econômica. Ou seja, saiu do admirável mundo dos papéis e chegou à vida real, onde empresas produzem e empregam, pessoas trabalham, compram, moram, comem -e votam.
Se os EUA, a Europa e o próprio Brasil investiram trilhões de dólares, euros e reais nos bancos, agora passam a investir no setor produtivo. O movimento é sincronizado.
Nos EUA, os US$ 700 bi arregimentados para o sistema financeiro vão ser desviados para estimular o crédito, e democratas e republicanos se aliam para salvar montadoras como a poderosa GM, que está mal das pernas. Ops! Das rodas.
No Brasil, o governo federal tinha suavizado o compulsório dos bancos, mas eles deram de ombros.
Agora a estratégia é outra. O Banco do Brasil destinou uns R$ 4 bi para as empresas, e a CEF abre uma linha de crédito de R$ 2 bi para arejar o comércio varejista. Em São Paulo, o tucano José Serra e o petista Guido Mantega se unem para jogar R$ 4 bi para financiar a compra de veículos em todo o país. E, em Minas, Aécio Neves colocou R$ 470 milhões à disposição das empresas, via empréstimos, e ampliou o prazo dos impostos.
O que se vê é um "pânico de resultados". Democratas, republicanos, tucanos e petistas "somam esforços" para que o mundo não caia no precipício. E isso remete ao artigo "A crise perversa", do embaixador José Viegas, publicado anteontem na Folha (pág. A3). Em resumo, ele diz que o "centro do capitalismo" suga recursos da "periferia do capitalismo" e depois exporta a crise para a periferia. Ou seja, para os emergentes, caso do Brasil.
Tudo isso será discutido amanhã na reunião do G20 (centros e periferias capitalistas), em Washington. Mas, como apontou Viegas, os que criaram a crise são os mesmos que vão sugerir e manejar os remendos. Como não há alternativa ao capitalismo, pai e mãe da "crise perversa", não há aos seus gênios.

elianec@uol.com.br


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