|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
JOSÉ SARNEY
Obama e Fala
SOU DOS QUE receberam a
eleição de Obama como o surgimento de um novo e grande
momento para a humanidade,
mergulhada na pior crise dos últimos tempos. Sua mensagem despertou tanta confiança que não
pode fracassar.
Mas confesso que alguns sinais
que ele tem dado não me animaram. Primeiro, a inclusão forçada
no discurso da vitória de um cachorrinho para suas filhas. Depois,
o excesso de retórica com a eleitora
mais velha dos Estados Unidos,
gesto com cheiro de demagogia e
comum nos populistas sul-americanos. E pior, a piada de mau gosto
de não querer invocar as sessões
espíritas de Nancy Reagan, viúva
do presidente Reagan, para ouvir
os conselhos de seu marido. E, se
não bastasse isso, o grande problema de escolher num abrigo o cão
para a Casa Branca, com as dificuldades da filha alérgica, que fosse
um vira-lata "como eu". Não era
exatamente isso o que se esperava
do presidente eleito.
Queremos um estadista, um homem de idéias que nos levem a
afastar o desânimo e a imagem dos
Estados Unidos neste momento
tão crucial da história. Lembremos
Kennedy com a política da Nova
Fronteira, esperança, ideais,
liderança.
Não estou desanimado, estou
apenas estranhando essas pequenas coisas que podem significar e
revelar grandes equívocos. A eleição de Obama foi não apenas a eleição de um orador brilhante, mas a
certeza de um novo e grande líder.
Os grandes líderes também fazem
piadas, mas não começam com
piadas.
Sabemos que os presidentes
americanos têm gosto por cachorros. A começar por Washington, o
primeiro, que tinha muitos e muitos cachorros, não um pet, mas
hounds, que ele utilizava para a caça à raposa, velho hábito inglês a
que se dedicava.
O cachorro presidencial mais famoso foi Fala, o terrier de estimação de Roosevelt, que foi acusado
de tê-lo deixado nas Ilhas Aleutas e
depois mandado um destróier buscá-lo, gastando milhões de dólares.
A oposição bateu forte. Roosevelt
então fez um famoso discurso dizendo que republicanos não se limitavam a atacar a sua família, a si,
a seus filhos, mas agora tinham
perdido toda a cabeça: "Incluíram
meu pequeno cachorro Fala". E
acrescentou: "Estou acostumado a
ouvir falsidades, mas estou ressentido com os ataques contra meu cachorro". E fez mais a ironia de que
Fala era escocês e levava essas coisas muito a sério.
Truman recomendou a seus sucessores: "Se vocês quiserem um
amigo em Washington, levem um
cachorro".
O mundo espera de Obama que
não seja um vira-lata, mas o grande
homem do nosso tempo, o estadista negro que nos devolveu a
esperança.
jose-sarney@uol.com.br
JOSÉ SARNEY escreve às sextas-feiras nesta coluna.
Texto Anterior: Rio de Janeiro - Fernando Gabeira: Febre contra febre Próximo Texto: Frases
Índice
|