|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CARLOS HEITOR CONY
O rosto e a luta
RIO DE JANEIRO - Cena de um
desenho animado visto na TV: milionário desmiolado candidata-se a
prefeito de sua cidade. Em casa,
diante do filho, diz que se apresentará ao eleitorado de forma transparente, sem enfeites nem disfarces, mostrando-se tal como é. Num
gesto teatral, arranca a peruca para
jogá-la no lixo. Apatetado, o filho
comenta: "Mas pai, o senhor nunca
usou peruca!". Com os cabelos na
mão, o pai insiste: "De hoje em
diante, serei como sou!".
Muito se escreveu sobre a necessidade da boa apresentação. Não só
para atores, artistas e derivados
mas para políticos e administradores. O próprio Lula mudou de visual
quando começou a alçar voos mais
altos, aparou a barba espessa e rude
que lhe dava um ar de anarquista
desativado.
As primeiras fotos de Machado
de Assis são cruas, vulgares, mostram um mulato feio que deseja subir na vida. Aos poucos vai se transformando, ganhando nobreza, até
terminar, na fase adulta, num retrato em que o artista o pintou como
um varão de Plutarco.
Ontem me perguntaram o que estava achando do novo visual de dona Dilma Rousseff, que passou por
ligeira lanternagem, preparando-se
para enfrentar o tsunami eleitoral
que se adivinha pela frente, sendo
ela até agora a candidata preferencial do presidente para substituí-lo.
Sem entrar em detalhes técnicos,
acho que ela ficou bem, remoçou,
perdeu o ar de catequista, de cientista social. Não digo que tenha ficado mais bonita -ela nunca foi feia,
para o meu gosto até que era
atraente com óculos e tudo.
O mal dessas lanternagens plásticas é que todas elas acabam se parecendo. Acredito que dona Dilma
não precisasse arrancar a peruca
que nunca usou para melhor impressionar os caciques partidários e
o eleitorado em geral.
Texto Anterior: Brasília - Eliane Cantanhêde: Espírito de ano novo Próximo Texto: Kenneth Maxwell: O novo presidente dos EUA Índice
|