São Paulo, quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

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CARLOS HEITOR CONY

O rosto e a luta

RIO DE JANEIRO - Cena de um desenho animado visto na TV: milionário desmiolado candidata-se a prefeito de sua cidade. Em casa, diante do filho, diz que se apresentará ao eleitorado de forma transparente, sem enfeites nem disfarces, mostrando-se tal como é. Num gesto teatral, arranca a peruca para jogá-la no lixo. Apatetado, o filho comenta: "Mas pai, o senhor nunca usou peruca!". Com os cabelos na mão, o pai insiste: "De hoje em diante, serei como sou!".
Muito se escreveu sobre a necessidade da boa apresentação. Não só para atores, artistas e derivados mas para políticos e administradores. O próprio Lula mudou de visual quando começou a alçar voos mais altos, aparou a barba espessa e rude que lhe dava um ar de anarquista desativado.
As primeiras fotos de Machado de Assis são cruas, vulgares, mostram um mulato feio que deseja subir na vida. Aos poucos vai se transformando, ganhando nobreza, até terminar, na fase adulta, num retrato em que o artista o pintou como um varão de Plutarco.
Ontem me perguntaram o que estava achando do novo visual de dona Dilma Rousseff, que passou por ligeira lanternagem, preparando-se para enfrentar o tsunami eleitoral que se adivinha pela frente, sendo ela até agora a candidata preferencial do presidente para substituí-lo.
Sem entrar em detalhes técnicos, acho que ela ficou bem, remoçou, perdeu o ar de catequista, de cientista social. Não digo que tenha ficado mais bonita -ela nunca foi feia, para o meu gosto até que era atraente com óculos e tudo.
O mal dessas lanternagens plásticas é que todas elas acabam se parecendo. Acredito que dona Dilma não precisasse arrancar a peruca que nunca usou para melhor impressionar os caciques partidários e o eleitorado em geral.


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