São Paulo, Sexta-feira, 15 de Janeiro de 1999
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O melhor do Brasil é o seu povo


É lírica e épica a tarefa de diminuir as mazelas do Brasil, pela ação consistente em favor do esporte e do turismo


RAFAEL GRECA

O presidente Fernando Henrique Cardoso, com a criação do Ministério do Esporte e do Turismo do Brasil, propõe um amplo trabalho em favor da geração de emprego e renda e, ao mesmo tempo, da valorização das potencialidades do nosso país nessas duas áreas estratégicas.
O turismo é a atividade capaz de empregar pessoas de todas as classes sociais, do refinamento da formação de comandantes de avião e intérpretes de línguas estrangeiras à simplicidade das rendeiras do Nordeste e lavadeiras de roupa de hospedagem. Há uma infinidade de ocupações geradas por essa indústria sem chaminés, que pode nos ajudar a vencer desigualdades sociais.
Betinho, numa de suas frases definitivas, causa-nos admiração quando propõe: pode ser que até inventem produção sem empregos, mas ninguém inventará consumo sem salários. Nessa sentença está a vigorosa estratégia de ampliarmos o setor de serviços deste país, servindo-nos de sua exuberante paisagem, gloriosa história e valoroso povo. O melhor do Brasil é o seu povo. Lírico ou épico. Sofrido e alegre, numa simultaneidade criativa na qual nem mesmo as mazelas de uma condição social adversa atrapalham.
Há que fomentar essa indústria do futuro com o uso dos sítios históricos, dos parques nacionais, do patrimônio natural e das paisagens urbanas, de forma intensiva e ambientalmente correta. Só o uso conserva. Por que não fazermos "paradores nacionais", em parques e na vizinhança de monumentos, dentro do exemplo espanhol, que permite aos turistas comer e dormir em lugares veneráveis para a humanidade, como o castelo de Jaén ou o lendário Alhambra, de Granada? Em Goa, na Índia, é atrativo destino de ingleses que fogem do frio, da gota e do reumatismo o belo hotel Forte Agoada. Uma fortaleza portuguesa semelhante às existentes nas barras de todas as baías do litoral brasileiro, desde Belém do Pará até Florianópolis.
Já pensaram se uma só das históricas fortalezas de Recife, Rio de Janeiro e Salvador fosse oferecida como oportunidade de negócio? Quantos investidores não se habilitariam? Quantos brasileiros não teriam a oportunidade de vivenciar nossa história de forma privilegiada?
Há também a imensa tarefa da capacitação de mão-de-obra para esse mercado do futuro. Hotéis precisam de pessoal fluente no inglês e no espanhol. Nossa costa e nossos rios pedem navegação de qualidade. O turismo pode até ser sem luxo, mas precisa ser sempre limpo.
Cidades prestam para ser visitadas se são amadas pelo seu povo, e só se ama o que se conhece. Quero desmentir o sambista, quando canta "O Brasil não conhece o Brasil". É preciso que os brasileiros gostem do Brasil, para que o turismo floresça em plenitude. Este país, tantas vezes justamente zangado e viciado na linguagem da crise, do desemprego e das diferenças sociais, precisa do bálsamo do entusiasmo para ser maior do que as dificuldades.
Para o esporte, quero propor um vigoroso esforço nacional. O esporte salva gente. Na quadra humilde, na cancha de areia, na praia e no parque urbano, o esporte diminui o uso das drogas e do álcool, a violência contra mulheres e excluídos e os casos de gravidez indesejada na adolescência. Proponho às grandes massas estressadas algo mais que os torneios de grande marketing.
Sei que podemos ser valiosos para campeonatos paraolímpicos ou para um programa nacional de formação de atletas. Vêm aí os Jogos do Brasil, dedicados à mocidade entre 12 e 17 anos, fábricas olímpicas, competições culturais e esportivas, que no meu entender e do ministro Weffort promoverão a mocidade no nosso ano 500.
O futuro começa aqui. O controle mais aprimorado dos recursos lotéricos é um primeiro patamar de auto-sustentabilidade para a causa do esporte nacional. "Somos o que fazemos. Nos dias em que fazemos, realmente existimos, nos outros apenas duramos." Acredito nessa frase do padre Vieira. É lírica e épica a tarefa de diminuirmos as mazelas do Brasil, pela ação consistente em favor do esporte e do turismo. Queira Deus que o generoso povo brasileiro compreenda e nos ajude. Essa é uma causa nacional.


Rafael Greca de Macedo, 42, engenheiro e economista pela Universidade Federal do Paraná, é ministro do Esporte e do Turismo e deputado federal eleito pelo PFL do Paraná.



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