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MARCELO BERABA
Mosquito vivo e peixe morto
RIO DE JANEIRO - O Rio tem dois prefeitos -sim, porque Garotinho,
com seus piscinões e restaurantes populares, mais parece um alcaide- e
às vezes parece não ter nenhum.
A cidade e seus entornos sofrem
com mais uma onda de dengue. Sete,
oito, nove mortes? Ninguém sabe.
Mesmo os casos notificados de infecção estão subestimados. As pessoas
caem doentes aos milhares.
Em São Paulo, o secretário de Saúde avisa que a cidade vai ter uma epidemia de dengue.
O Rio de Janeiro já chegou lá. A cidade está empesteada, e seus habitantes paranóicos. Dia desses, fui a
um enterro em que as pessoas não sabiam se evitavam os mosquitos ou se
velavam o morto.
Há campanhas educativas na TV,
mas elas chegam tarde. Como diz o
Sindicato dos Médicos do Rio, a situação é muito grave e já estava
anunciada há muito tempo. As autoridades acusam o sindicato de alarmismo, mas os casos se alastram com
muita velocidade e lhe dão razão.
As campanhas oficiais transferem a
responsabilidade pela contenção da
epidemia para a população, tal como
ocorreu recentemente com o apagão
e tal como costuma ocorrer sempre
que um problema previsível e evitável acaba saindo do controle das chamadas autoridades públicas.
Garotinho se vestiu de estadista e
foi para a Europa provocar Brizola e
o PT. Cesar Maia, politicólogo, foi para o sambódromo fustigar Serra e
Garotinho. Serra, o ministro da Saúde, se recolheu.
A população está cansada das brigas entre os poderes porque sabe que
é um jogo de empurra, uma forma de
se livrarem das responsabilidades.
Eles brigam e se acusam por causa
da dengue, dos peixes mortos na lagoa Rodrigo de Freitas, das obras de
esgoto sanitário. A dengue continua
a se alastrar, os peixes morrem e as
obras não andam.
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