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São Paulo, sábado, 15 de fevereiro de 2003

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NÃO À GUERRA

O SACRIFÍCIO de vidas, a devastação material e o imenso sofrimento que acompanham toda guerra deveriam ser o bastante para fazer de qualquer pessoa sensata um pacifista. A legitimidade do recurso às armas é sempre questionável, e são muito poucos os casos _como o da coligação mundial contra o nazi-fascismo_ em que a guerra se torna um imperativo para evitar mal maior.
A campanha que os Estados Unidos estão prestes a empreender contra o Iraque está longe de configurar um desses casos. Os inspetores da ONU não foram capazes de constatar a existência de armas de destruição em massa naquele país. Indícios nesse sentido resumem-se a relatórios produzidos pelo serviço de espionagem americano, a respeito dos quais convém manter ceticismo. Uma ligação orgânica entre o ditador Saddam Hussein e a rede terrorista Al Qaeda, que vá além da simpatia mútua em face do inimigo comum, tampouco está comprovada.
O tempo pode até vir a mostrar que os americanos estavam certos. Seus argumentos não foram capazes de persuadir, porém, nem mesmo alguns de seus tradicionais aliados, para não mencionar parte expressiva, certamente majoritária, da opinião pública mundial. Paira a suspeita generalizada de que o verdadeiro motivo do ataque seja o petróleo iraquiano.
Num mundo em que o direito internacional ainda é incipiente e os governos são em tese soberanos, a causa norte-americana não foi capaz de obter amparo, tampouco, no organismo que bem ou mal serve de contrapeso à lei do mais forte nas relações entre os Estados: o Conselho de Segurança das Nações Unidas.
Todos sabem que o regime iraquiano é reincidente no recurso à agressão contra populações indefesas e na prática de crimes de guerra. Deve ser monitorado, como vem ocorrendo desde a Guerra do Golfo. Mas no horizonte dos dados disponíveis nada justifica esta guerra.
O governo Lula faz bem quando coloca o Brasil ao lado dos países que se opõem ao confronto armado. Humanitária e congruente com nossa tradição diplomática, essa atitude expressa também a idéia de que o mundo não precisa de uma nova guerra _precisa de mais cooperação entre Norte e Sul e de maior equilíbrio no jogo internacional do poder.


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