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EMÍLIO ODEBRECHT
O trânsito nas cidades
CHAMA A atenção a quantidade de carros circulando pelas
ruas das cidades brasileiras
apenas com o motorista em seu
interior.
Dados oficiais dão conta de que
em São Paulo a ocupação média é
de 1,49 pessoa por veículo. É um
número estranho, que serve para
ilustrar o drama: milhões de carros
que circulam diariamente transportam menos de duas pessoas.
Carros não foram feitos para
transportar uma só pessoa. Se vários indivíduos que se dirigem a um
mesmo local compartilhassem os
automóveis, muitos deles não precisariam circular. Além disso, temos um transporte de massa precário.
Consequência: vivemos engarrafados.
Só o município de São Paulo tem
mais de 10 milhões de habitantes.
Se incluirmos a região metropolitana, chegaremos a quase 18 milhões. No Rio, são outros 6 milhões.
Tais concentrações fazem da locomoção diária um duro desafio.
Nos piores horários, quando todos chegam ou saem de seus locais
de trabalho, metrôs, trens e ônibus
são objeto de disputa. Isso desestimula quem tem carro a deixá-lo em
casa. Em consequência, os carros
praticamente não se movem nas
ruas, alcançando em alguns dias
velocidades médias de 7 km por
hora.
Temos falta de infraestrutura
inclusive para servir a formas alternativas de transporte, como a
bicicleta.
Enquanto Paris tem 379 km de
ciclovias e Berlim tem 625 km, São
Paulo soma pífios 29,5 km.
Ou seja: ainda há muito por fazer. Principalmente quanto à oferta de transporte público.
A recuperação da qualidade da
mobilidade das pessoas nos grandes centros urbanos depende de
meios coletivos que ofereçam aos
usuários um mínimo de conforto e
segurança -até porque este é o
único argumento que convencerá o
motorista solitário a deixar seu
carro na garagem para pegar o ônibus, o trem ou o metrô.
Por outro lado, este é um assunto
que precisa entrar na agenda das
grandes montadoras de veículos. É
preciso que tratem dessa questão
com visão de longo prazo, numa
perspectiva sustentável, porque o
negócio delas é transporte.
O espaço para contribuição é
enorme, seja com campanhas educativas, desenvolvimento de veículos inovadores e até parcerias com
governos na busca de soluções.
Agindo assim, estarão servindo a
seus clientes não apenas como fabricantes de veículos, mas como
empresas atentas à qualidade da
locomoção das pessoas.
Um movimento pelo resgate das
condições de trânsito tem óbvia
conexão com o futuro da indústria
automobilística. Continuando as
coisas como estão, em pouco tempo, nas grandes cidades, o automóvel se tornará um objeto inútil.
EMÍLIO ODEBRECHT escreve aos domingo nesta
coluna.
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