São Paulo, domingo, 15 de fevereiro de 2009

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EMÍLIO ODEBRECHT

O trânsito nas cidades

CHAMA A atenção a quantidade de carros circulando pelas ruas das cidades brasileiras apenas com o motorista em seu interior.
Dados oficiais dão conta de que em São Paulo a ocupação média é de 1,49 pessoa por veículo. É um número estranho, que serve para ilustrar o drama: milhões de carros que circulam diariamente transportam menos de duas pessoas.
Carros não foram feitos para transportar uma só pessoa. Se vários indivíduos que se dirigem a um mesmo local compartilhassem os automóveis, muitos deles não precisariam circular. Além disso, temos um transporte de massa precário. Consequência: vivemos engarrafados.
Só o município de São Paulo tem mais de 10 milhões de habitantes.
Se incluirmos a região metropolitana, chegaremos a quase 18 milhões. No Rio, são outros 6 milhões. Tais concentrações fazem da locomoção diária um duro desafio.
Nos piores horários, quando todos chegam ou saem de seus locais de trabalho, metrôs, trens e ônibus são objeto de disputa. Isso desestimula quem tem carro a deixá-lo em casa. Em consequência, os carros praticamente não se movem nas ruas, alcançando em alguns dias velocidades médias de 7 km por hora.
Temos falta de infraestrutura inclusive para servir a formas alternativas de transporte, como a bicicleta.
Enquanto Paris tem 379 km de ciclovias e Berlim tem 625 km, São Paulo soma pífios 29,5 km. Ou seja: ainda há muito por fazer. Principalmente quanto à oferta de transporte público.
A recuperação da qualidade da mobilidade das pessoas nos grandes centros urbanos depende de meios coletivos que ofereçam aos usuários um mínimo de conforto e segurança -até porque este é o único argumento que convencerá o motorista solitário a deixar seu carro na garagem para pegar o ônibus, o trem ou o metrô.
Por outro lado, este é um assunto que precisa entrar na agenda das grandes montadoras de veículos. É preciso que tratem dessa questão com visão de longo prazo, numa perspectiva sustentável, porque o negócio delas é transporte.
O espaço para contribuição é enorme, seja com campanhas educativas, desenvolvimento de veículos inovadores e até parcerias com governos na busca de soluções.
Agindo assim, estarão servindo a seus clientes não apenas como fabricantes de veículos, mas como empresas atentas à qualidade da locomoção das pessoas.
Um movimento pelo resgate das condições de trânsito tem óbvia conexão com o futuro da indústria automobilística. Continuando as coisas como estão, em pouco tempo, nas grandes cidades, o automóvel se tornará um objeto inútil.


EMÍLIO ODEBRECHT escreve aos domingo nesta coluna.


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