São Paulo, terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Editoriais

editoriais@uol.com.br

Guilhotina

Polícia Federal e Ministério Público, com apoio da cúpula da Secretaria de Segurança do Rio de Janeiro, lançaram na última sexta-feira uma operação, batizada de Guilhotina, com vistas a desmontar o que parece ser um amplo esquema de formação de milícias, venda de proteção ilegal, vazamento de informações e desvio de armas, drogas e dinheiro por representantes das polícias.
Cumprem-se ao todo 45 mandados de prisão, sendo que 11 contra policiais civis e 21 para policiais militares. O ex-subchefe da Polícia Civil Carlos Antônio Luiz Oliveira, que ocupava a função de subsecretário de Ordem Pública no município do Rio, foi exonerado. É acusado de ligações com uma milícia que teria se apoderado de armas apreendidas no Complexo do Alemão, após a tomada da área, em novembro.
Não apenas o desvio de armamentos manchou a ação policial naquele episódio. Foram numerosos os relatos de arbitrariedades contra moradores, além da denúncia de que traficantes fugiram sob escolta de agentes públicos.
Para que se tenha uma ideia do grau de deformação em setores da polícia fluminense, escutas revelaram que, após a ocupação, policiais passaram a se referir ao Complexo do Alemão como Serra Pelada -numa referência a dinheiro, joias, drogas e armas que ali poderiam ilicitamente garimpar.
No que alguns observadores interpretam como uma espécie de retaliação preventiva às ações de sexta-feira, a Polícia Civil do Estado determinou, no domingo, que se lacrasse a Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Draco).
O comandante dessa unidade, o delegado Claudio Ferraz, que teria colaborado com a operação da PF, é apontado como candidato a uma eventual substituição do atual chefe da Polícia Civil, Allan Turnowski. Segundo Turnowski, há indícios de que a Draco favoreceu empresas e prefeituras em licitações fraudulentas no Estado.
Nesse cenário de guerra de bastidores e esmaecimento das fronteiras entre a ação das forças da lei e do crime espera-se que a Guilhotina não seja apenas mais uma ruidosa operação da PF -mas sim o início de um combate sistemático à "banda podre" da polícia.
O governo fluminense tem logrado nos últimos anos avanços na luta contra o crime. É preciso que leve, enfim, sua política às últimas consequências e promova uma reforma profunda e duradoura nas suas forças de segurança.


Texto Anterior: Editoriais: Meta sob risco
Próximo Texto: São Paulo - Fernando de Barros e Silva: O mito da "nova classe média"
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.