São Paulo, quinta-feira, 15 de março de 2001

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CARLOS HEITOR CONY

Solicito secretária competente

RIO DE JANEIRO - O título da crônica é estranho, sou o primeiro a reconhecer. É trecho de música caribenha, ""Cha-cha-cha de las secretarias", gravada por um bigodudo, Bienvenido Granda, que passou de moda.
Mas o Caribe continua em alta. O dossiê falsificado, que tentou tumultuar a última eleição presidencial, provocou no indigitado beneficiário de contas suspeitas no exterior a reação de sempre: mandou apurar e punir os responsáveis pela falsificação e divulgação parcial do documento.
Se tivesse secretários ou secretárias competentes, o presidente da República teria feito mais, ou melhor, teria feito o principal. Desde a primeira campanha eleitoral que o elegeu, sabe-se que houve sobras de caixa -episódio que se repetiria na reeleição.
Além disso, as privatizações, sobretudo a das teles e a da Vale do Rio Doce, geraram comissões e maracutaias, uma delas, por sinal, estourou recentemente, com o caso do Ricardo Sérgio.
Pode ser, até, que o dossiê seja abafado, como é de rotina. Os líderes governistas consideram subversão apurar a verdade, no pressuposto de que a única verdade é a do governo -tal como acontecia durante o regime militar.
Na complicada trama dos dossiês, um nome é constante e não foi desmentido. Por acaso, é o nome do antigo tesoureiro de FHC, que muitos aproximavam do modelo anterior, administrado por PC Farias.
É possível que, ressuscitado o caso, o governo atire ao mar algum indesejado, o próprio Ricardo Sérgio, ou qualquer outro bode expiatório.
FHC não repete Collor no que o ex-presidente teve de melhor. Acreditando demais em seu poder e na eficiência de seus secretários, Collor não abafou a CPI que o afastou da presidência.
Rescaldado pelo precedente, FHC tem horror a qualquer investigação.


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