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VINICIUS TORRES FREIRE
Horror, horror, mídia e política
SÃO PAULO - Quase nunca conhecemos nomes e rostos dos mortos em
massacres, em campos de extermínio,
dos assassinados por terroristas, pelas
turbas armadas de facões, das vítimas das limpezas étnicas, das prisões
de ditaduras e democracias, das
guerras sujas e das guerras limpas, as
"cirúrgicas".
É tão óbvio, são tantos e tão freqüentes os mortos assim. Aqui no
Brasil, soubemos o nome de um patrício ferido na carnificina de Madri.
Vimos vidrados o rosto da mulher
morta e sem nome nas ferragens do
trem de Atocha, Madri, os lábios
abertos, olhos transidos, como se fosse desmaiar de dor.
Pouco sabemos dos 8.000 bósnios
mortos em Srebrenica, dos tutsis de
Ruanda e Burundi. Nada sabemos
dos massacres africanos, asiáticos, latino-americanos. A empatia é para
quem se parece conosco, vive como a
gente, ou quase sempre para quem
vive em lugares que têm poderes e haveres bastantes para fazerem suas
histórias terríveis serem midiáticas.
Mas ao lado das pessoas horrivelmente mortas em Madri merece epigramas e elegias tanta gente mais.
Os milhares de hemas e biras massacrados, por vezes à razão de centenas por dia, no Congo.
Ou Dilawar, 22, e Mullah Habibullah, mais ou menos 30, torturados e
mortos na base aérea americana de
Bagram, em dezembro de 2003, no
Afeganistão, segundo os próprios patologistas militares americanos.
Ou as centenas, talvez milhares, de
israelenses mortos quando comiam
um pizza ou um sanduíche numa cafeteria universitária. Palestinos atropelados por tanques, tratores e metralhas do Exército de Ariel Sharon.
Os colombianos assassinados pelo
narcoterror, tantos, tão aqui do lado,
mas que nos parecem tão exóticos ou
tanto com o nosso povo miúdo que
nem ligamos para seus massacres.
Os milhares de argelinos massacrados pelo terror islâmico. Os sudaneses cristãos e animistas. A Libéria.
Serra Leoa. O Timor Leste.
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