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Educação urgente
RAUL HENRY
Os dados da educação são desoladores. Mas o que mais chama a atenção é
a pequena repercussão de um fato com tal gravidade
TRÊS FATOS marcaram a vida do
país neste início de 2007.
O primeiro, um pacote econômico anunciado com grande estardalhaço, mas tímido no conteúdo. Não
enfrenta o principal desafio do Estado brasileiro, que é reduzir as despesas correntes e ampliar sua capacidade de investimento.
O segundo, o martírio de João Hélio, que levou ao ápice do horror a tragédia da violência urbana no país.
Uma comoção profunda -e mais que
justificada- tomou conta de toda a
sociedade brasileira.
O terceiro, e de menor repercussão,
foram os resultados do Saeb (Sistema
Nacional de Avaliação da Educação
Básica). Eles indicam a piora do desempenho das escolas brasileiras, dez
anos após iniciadas as avaliações.
Os dados são desoladores. Quando
se observa a série histórica dos números do Saeb, numa escala de 0 a 500
pontos, tem-se o seguinte. Na quarta
série do ensino fundamental, a nota
de português caiu de 188,3 para 172,3
entre 1995 e 2005. Em matemática,
na mesma quarta série, a queda foi de
190,6 para 182,4. Na oitava série, em
português, a nota caiu de 256,1 para
231,9, e, em matemática, de 253,2 para 239,5, no mesmo período. Na terceira série do ensino médio, em português, a queda foi de 290 para 257,6,
e, em matemática, de 281,9 para 271,3.
No Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), os índices confirmam a
queda do desempenho. De 2005 a
2006, a nota da prova objetiva caiu de
39,4 para 36,9. A de redação, de 55,96
para 52,08, numa escala de 0 a 100.
Outro dado lamentável do Enem é a
histórica desigualdade entre as redes
pública e privada. Na prova objetiva, a
média da rede privada foi de 50,57. Na
rede pública, de 34,94. Em redação,
mais uma vez a rede privada leva vantagem: 59,77 a 51,23.
Os diagnósticos são múltiplos. O fato é que, após a universalização, alcançada no governo anterior, nenhum progresso se realizou. O atual
governo perdeu quatro anos sem
achar o foco. Agora, finalmente, parece ter compreendido que a prioridade
é a educação básica. E, com orçamento limitado, é inevitável enfrentar o
dilema de definir prioridade.
Mas o que mais chama a atenção é a
pequena repercussão de um fato com
tamanha gravidade. Depois das notícias publicadas pela imprensa, poucos se pronunciaram. A sociedade civil e os movimentos sociais não se
manifestaram. Parece que não há
uma crise com nefastas conseqüências para o país. A sensação é a de que
o problema não faz parte do nosso
mundo. Nossos filhos não sofrem os
efeitos dessa realidade. Eles não freqüentam a escola pública.
No entanto, ela é o único instrumento de que dispomos para a construção de um projeto nacional, capaz
de reconstituir o tecido de uma sociedade dilacerada por sua histórica iniqüidade. Jamais seremos uma nação
viável sem cumprir a etapa de uma escola pública de qualidade. A redução
da desigualdade tem de começar na
largada da corrida por oportunidades.
Esse esforço demandará, no mínimo, uma geração e, por isso, deve ser
iniciado imediatamente. Os exemplos
mostram que é possível, desde que
Estado e sociedade o definam como
prioridade. Os casos da Coréia, da Irlanda, do Chile, da Espanha e de Portugal são recorrentes na literatura especializada. No Brasil, são gastos U$
944 per capita/ano na educação básica. Metade do gasto da Argentina, do
Chile e do México e sete vezes menos
que o investido na Comunidade Européia, segundo a Unesco. O novo
Fundeb é insuficiente. Em 2010,
quando a União estiver repassando o
máximo de recursos previstos, a projeção é de um aumento correspondente a apenas 0,3% do PIB.
Há que implantar uma política de
formação de professores, um piso salarial para o país e um sistema de gestão com base na autonomia da escola,
baseado no conceito de produtividade e premiação por metas alcançadas.
O quadro é de desalento, mas há
iniciativas relevantes. Surgem ações
por uma educação de qualidade para
os que estão à margem. São entidades
do terceiro setor, empresas individuais ou coalizões empresariais, como o IQE (Instituto pela Qualidade
do Ensino) e o Compromisso Todos
pela Educação, que decidiram fazer a
sua parte.
Eles certamente concordam com a
canção do genial Lenine: "Olho na
pressão, tá fervendo / Olho na panela
/ Dinamite é o feijão cozinhando /
Dentro do molho dela / A bruxa mexeu o caldo / Se liga aí, ô galera / Tá
pingando na mistura / A saliva da besta-fera".
RAUL HENRY, 42, economista, é deputado federal pelo PMDB de Pernambuco.
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