|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CLÓVIS ROSSI
Sangue no verde-e-amarelo
BRASÍLIA - Faz um mês, depois
de visitar o Yad Vashem, o Museu
do Holocausto, em Jerusalém, o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva
disse que "a visita deveria ser quase
obrigatória para todos os que
querem dirigir uma nação". Seria,
achava Lula, um modo de entender
o "que pode acontecer quando a irracionalidade toma conta do ser
humano".
O que faz depois o governo brasileiro? Recomenda a Mahmoud Ahmadinejad, o presidente do Irã, que
visite o Yad Vashem? Não, ao contrário. O ministro Miguel Jorge
(Desenvolvimento, Indústria e Comércio), que, aliás, estava na visita
ao museu de Jerusalém, entrega
com um sorriso a camisa verde-e-amarela ao homem que nunca vai
visitar o Yad Vashem, não só porque nega o Holocausto mas porque
regularmente prega a "aniquilação"
dos judeus.
É esse carinho absurdo o problema real das relações Brasil/Irã, e
não a posição brasileira de preferir
o diálogo às sanções para forçar o
regime dos aiatolás a desenvolver
um programa nuclear só para fins
pacíficos.
Essa é matéria opinável. Tampouco é um problema o fato de Miguel Jorge e comitiva empresarial
estarem em Teerã para fazer negócios. Desde sempre, países fazem
negócios com quem lhes convêm,
sem olhar minimamente para o
caráter do regime com o qual
negociam.
O que não é tolerável é fazer carinho em quem prende, tortura e mata os opositores, em quem limita
brutalmente as liberdades públicas.
A Anistia Internacional divulgou
faz pouco relatório em que aponta a
execução de ao menos 112 pessoas
no Irã nas oito semanas que se seguiram à reeleição de Ahmadinejad, vivamente contestada.
São mais de duas execuções por
dia, quase o dobro da média dos seis
meses anteriores à votação.
O gesto do governo brasileiro cobriu de sangue, pois, a camisa verde-e-amarela.
crossi@uol.com.br
Texto Anterior: Editoriais: Supercomputador
Próximo Texto: Brasília - Eliane Cantanhêde: O que importa é a foto Índice
|