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CARLOS HEITOR CONY
Didi
RIO DE JANEIRO - Que Pelé, Garrincha, Jair da Rosa Pinto, Nilton Santos, Zico, Rivelino, Gérson, Zizinho e Romário me perdoem. Mas o maior
jogador que vi jogar foi Waldir Pereira, o Didi, que conheci com a camisa
tricolor do Madureira e, mais tarde,
com a camisa tricolor do meu time, o
Fluminense.
Vestiu outras camisas, inclusive
aquela desbotada da antiga seleção
nacional, quando foi bicampeão
mundial. Em 1958, na Suécia, Pelé foi
o herói. Em 1962, no Chile, foi Garrincha. Mas nas duas ocasiões, o maestro, o eixo sobre o qual o time girava,
era Didi.
Nunca houve jogador elegante como ele. A imagem que Nelson Rodrigues criou é definitiva: o príncipe de
rancho, o príncipe etíope que desfilava arrastando um manto de arminho e púrpura.
Devo a Didi o meu afastamento da
torcida em campo. Quando o Fluminense vendeu seu passe para o Botafogo, jurei nunca mais assistir a jogo
do meu time. Com raríssimas exceções, cumpri o juramento.
A história oficial garante que ele inventou a folha-seca num jogo da seleção contra o Peru, em busca da classificação para a Copa do Mundo. Não
foi bem assim. Foi numa partida do
Fluminense contra um time suíço,
cujo nome, traduzido, era "gafanhoto". A camisa dos caras era verde, daí
o nome.
Foi no Maracanã, nas balizas que
foram dedicadas a Ghiggia, quando
deviam ser dedicadas a Didi. Ali ele
marcara o primeiro gol no estádio,
num amistoso Rio e São Paulo. Ali ele
fizera a primeira folha-seca, o chute
que fazia da bola uma pluma ao vento, tal como a mulher, segundo o Duque de Mântua no "Rigoletto": mudava de inflexão e de pensamento.
Entrevistei-o uma vez, em sua casa
na Ilha do Governador. Ele não era
elegante apenas em campo. Nunca
entrevistei o Aleijadinho nem o Machado de Assis. Mas acho que já entrevistei um artista genial.
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