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JOSÉ SARNEY
A pedra angular
CONHECI E FUI amigo de Takeo Fukuda, que foi primeiro-ministro do Japão por
muitos anos e fundador do Inter-
Action Council, do qual faço parte.
Muitas vezes estivemos juntos
em reuniões em várias partes do
mundo para discutir os problemas
do presente e do futuro da humanidade. Em nenhuma delas Fukuda
deixou de aproveitar toda e qualquer discussão para inserir a tese
pela qual tinha verdadeira obsessão: o controle demográfico.
Lembrei-me dele, de suas advertências, nesta crise mundial. Não
crescer economicamente significa
a eclosão de dificuldades e problemas que vão do desemprego à fome. Já no caso da população é o
crescimento que nos dá a previsão
de obstáculos insolúveis no futuro.
Grandes populações, para citar o
menos visível hoje, significam mais
água, mais alimento e, para mais
alimento, mais água. Isso sem
falar em mais espaço para viver e
produzir.
A cada dia é menor o espaço que
cabe a cada um na superfície do
globo. As projeções, sem contestação, mesmo com a queda do índice
de reprodução, preveem para o ano
de 2050 uma população de 9,2 bilhões de pessoas. A China terá 1,37
bilhão. Será ultrapassada pela Índia, que terá 1,59 bilhão. O Brasil
terá 215 milhões, crescendo a uma
taxa de natalidade baixa. Isso implica o envelhecimento da população, com repercussões na força de
trabalho.
A dificuldade dos sérios problemas de água, de produção de alimentos, de infraestrutura, de empregos e de esgotamento de recursos naturais de hoje num mundo
com 9,2 bilhões de habitantes é incalculável.
E, se nosso pensamento avançar
mais no tempo, chegaremos à conclusão de que se tornará impossível
ao homem viver na Terra com o estilo de vida que criou, de um consumismo compulsivo e da demanda
por locomoção: vias urbanas, estradas, aviões -chegando até ao
congestionamento de vias aéreas,
como já acontece em alguns lugares. Este transporte, se não tem limitação de espaço, passa a ter cada
vez mais necessidade de apoios
terrestres.
Galbraith, no livro "The Affluent
Society", sobre a civilização industrial, esta que vivemos -e ele não
viveu o boom da explosão da sociedade de informação-, dizia que ela
tinha forças para no máximo viver
mais 500 anos. Era um otimista,
porque, se para 50 anos já vislumbramos esses problemas, o que nos
espera daqui a cinco séculos?
Assim, acredito que ecologia sem
controle populacional é um tiro
n'água. Eles têm de caminhar juntos. E vejo que pouco se fala nisso.
Qual a solução se o tema de crescimento populacional quase desapareceu da agenda mundial? Proibir
fazer sexo? Isso nem o papa Bento
16 pregou.
jose-sarney@uol.com.br
JOSÉ SARNEY escreve às sextas-feiras nesta coluna.
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