São Paulo, domingo, 15 de maio de 2011

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Editoriais

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Para poucos

Aplica-se frequentemente, de forma abusiva, o rótulo de "elitista" a toda manifestação cultural que não atenda às pressões do mercado e do gosto popular. Não seria surpresa ver o adjetivo aplicado à feira SP Arte, realizada no Pavilhão da Bienal.
Desse ponto de vista, o teatro de Samuel Beckett, os quadros de Paul Klee ou os romances de William Faulkner, na medida em que exigem repertório prévio para plena fruição, seriam apenas brinquedos de luxo para alguns especialistas. E, portanto, não deveriam contar, de parte do poder público, com iniciativas para estender sua mensagem à população.
Percebe-se a contradição do argumento. Se a cultura erudita termina confinada a um círculo de privilegiados, isso se deve em parte ao fato de que se desdenham as tentativas de ampliar o seu acesso. Quem as critica por seu "elitismo" acaba reforçando a situação que estava a condenar.
Merece plenamente a pecha de "elitista", entretanto, uma feira de arte que cobra R$ 30 de cada visitante -e que, expondo grandes nomes da arte brasileira, assim como algumas novidades do mercado contemporâneo, destina-se, sobretudo, ao deleite e às apostas de investidores milionários.
Que façam uso, como bem entenderem, dos recursos que têm de sobra. Não está aí o problema. Mas, sim, no fato de que o Estado brasileiro, cujos recursos para o setor são escassos, financie esse tipo de evento. Foi o que se fez, por meio das isenções fiscais asseguradas pelo Ministério da Cultura, com a feira SP Arte.
O evento, certamente, ajuda a incluir a cidade no circuito dos negócios e da cultura transnacional. Todavia, não oferece nenhuma contrapartida, em termos sociais ou educativos, aos recursos com que o governo o contemplou.
Os organizadores obtiveram a autorização de captar até R$ 1,2 milhão, mais da metade do orçamento total da feira, por meio de facilidades concedidas pela Lei de Incentivo à Cultura (até o presente, foram R$ 300 mil).
A exemplo do que aconteceu com o famoso espetáculo do Cirque du Soleil, alguns anos atrás, o contribuinte brasileiro paga, sem saber, para o desfrute de poucos.


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