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NIILISMO EUROPEU
Pode-se perceber uma dose
de niilismo no resultado das
eleições para o Europarlamento. Na
média, apenas 45,3% dos eleitores
dos 25 países que compõem a União
Européia (UE) depositaram seus votos nas urnas. É a menor taxa de
comparecimento desde o primeiro
pleito direto para o Parlamento europeu, em 1979, quando mais de 60%
do eleitorado votou. O desinteresse
revelou-se especialmente acentuado
nos dez novos países da UE, onde se
poderia esperar ânimo mais participativo, devido à novidade do voto.
O não-comparecimento explica-se
em parte pela percepção de que o
Parlamento europeu não serve para
nada. Embora seus poderes venham
sendo ampliados, a sensação geral é
a de que a instituição é mais um penduricalho na já onerosa, inchada e
burocratizada estrutura da UE.
A distância entre representantes e
representados acaba transformando
a eleição para o Legislativo europeu
num pleito curioso, em que os cidadãos, diante das diminutas conseqüências práticas do voto, aproveitam para enviar mensagens de alerta
e insatisfação aos governantes de
seus respectivos países. É o que revela o fato de administrações mais antigas -e mais desgastadas- terem
recebido formidáveis derrotas.
O Partido Social-Democrata do
premiê alemão, Gerhard Schröder,
teve a pior votação desde a Segunda
Guerra. O partido do presidente Jacques Chirac, da França, amargou
menos de 17% dos votos. No Reino
Unido, conservadores e trabalhistas,
somados, não obtiveram 50% das
cadeiras. Foi notável também o crescimento de legendas contrárias à UE
-um sintomático protesto contra a
própria comunidade.
A apatia e a descrença são um alerta
para que as autoridades confiram
mais conteúdo à instituição -o que
deverá ocorrer com a aprovação da
Carta da UE. Sem isso, num mundo
ideologicamente frio, cujos partidos
ficam cada vez mais parecidos, corre-se o risco de o niilismo converter-se em desprezo pela democracia.
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