São Paulo, terça-feira, 15 de junho de 2004

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NIILISMO EUROPEU

Pode-se perceber uma dose de niilismo no resultado das eleições para o Europarlamento. Na média, apenas 45,3% dos eleitores dos 25 países que compõem a União Européia (UE) depositaram seus votos nas urnas. É a menor taxa de comparecimento desde o primeiro pleito direto para o Parlamento europeu, em 1979, quando mais de 60% do eleitorado votou. O desinteresse revelou-se especialmente acentuado nos dez novos países da UE, onde se poderia esperar ânimo mais participativo, devido à novidade do voto.
O não-comparecimento explica-se em parte pela percepção de que o Parlamento europeu não serve para nada. Embora seus poderes venham sendo ampliados, a sensação geral é a de que a instituição é mais um penduricalho na já onerosa, inchada e burocratizada estrutura da UE.
A distância entre representantes e representados acaba transformando a eleição para o Legislativo europeu num pleito curioso, em que os cidadãos, diante das diminutas conseqüências práticas do voto, aproveitam para enviar mensagens de alerta e insatisfação aos governantes de seus respectivos países. É o que revela o fato de administrações mais antigas -e mais desgastadas- terem recebido formidáveis derrotas.
O Partido Social-Democrata do premiê alemão, Gerhard Schröder, teve a pior votação desde a Segunda Guerra. O partido do presidente Jacques Chirac, da França, amargou menos de 17% dos votos. No Reino Unido, conservadores e trabalhistas, somados, não obtiveram 50% das cadeiras. Foi notável também o crescimento de legendas contrárias à UE -um sintomático protesto contra a própria comunidade.
A apatia e a descrença são um alerta para que as autoridades confiram mais conteúdo à instituição -o que deverá ocorrer com a aprovação da Carta da UE. Sem isso, num mundo ideologicamente frio, cujos partidos ficam cada vez mais parecidos, corre-se o risco de o niilismo converter-se em desprezo pela democracia.


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