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Onda verde
País deve aproveitar a maré do biocombustível, mas sem comprometer o futuro de seu invejável patrimônio ambiental
SOB A dupla pressão da mudança climática global e
dos sucessivos aumentos
dos preços internacionais
do petróleo, o mundo vive uma
fase de encantamento com os
biocombustíveis, como o álcool
na substituição da gasolina e os
óleos vegetais na do óleo diesel.
Esse entusiasmo impôs à pauta
mundial o tema das formas alternativas e sustentáveis de energia,
o que é bom. O excesso de entusiasmo, no entanto, não deve toldar a capacidade de prevenir os
efeitos não-pretendidos, sobretudo ambientais, que toda nova
tecnologia sempre acarreta.
O momento de agir com previdência é agora, quando os biocombustíveis ainda representam
só 1% do que é consumido nos
sistemas de transporte do planeta. A estimativa é do "think tank"
Worldwatch Institute, dos EUA,
que produziu, a pedido do governo alemão, o relatório "Biocombustíveis para o Transporte", divulgado há uma semana.
Até por abocanhar uma fatia
tão diminuta do consumo, os
biocombustíveis têm um enorme potencial pela frente. O etanol, que representa nove décimos do combustível líquido alternativo (cabendo o restante ao
biodiesel), viu sua produção duplicar nos últimos cinco anos.
Segundo o estudo, esse tipo de álcool produzido a partir da cana-de-açúcar e do milho, principalmente, se torna competitivo
diante da gasolina sempre que os
preços do barril de petróleo ultrapassam a marca dos US$ 50.
O Brasil é o grande destaque
nesse cenário. É o maior produtor de etanol (16,5 bilhões de litros em 2005), ainda que seguido
de perto pelos Estados Unidos
(16,2 bilhões de litros), e tem o
maior potencial de crescimento
nessa seara. Não há outra nação
que reúna tantos fatores a favor
da competitividade na produção
de tais commodities: experiência, tecnologia, estoque de terras
aráveis, água e radiação solar
abundantes, além de um promissor programa para a produção
em larga escala do biodiesel.
De acordo com estimativas do
Worldwatch, de 1% do consumo
mundial, os biocombustíveis poderiam chegar, em 25 anos, a
parcelas entre 20% (na União
Européia) e 37% (nos EUA). Só o
etanol poderia substituir 10% de
toda a gasolina consumida no
mundo. O Brasil ocupa a melhor
posição para suprir esse fantástico mercado, em especial se Washington eliminar os 14 centavos
de dólar com que sobretaxa cada
litro de etanol brasileiro.
Tais vantagens comparativas
brasileiras representam também
um potencial adicional de danos
aos ecossistemas naturais e de
conversão de áreas hoje dedicadas ao plantio de alimentos.
Mesmo sem a demanda por biocombustíveis, o aumento do
mercado internacional de commodities como soja, carne bovina e madeiras tropicais já desencadeia uma pressão preocupante
sobre as franjas da floresta amazônica, a maior concentração de
biodiversidade do planeta.
Não se trata de deixar de surfar
a onda dos biocombustíveis, mas
de fazê-lo com habilidade. O governo brasileiro precisa estar
preparado para manter o programa dos biocombustíveis no rumo da sustentabilidade ambiental e da maximização dos benefícios sociais. Mais que oportunidade única para o agronegócio,
eles encerram a promessa de um
futuro ambientalmente saudável
para muitas gerações que só com
sabedoria será possível cumprir.
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