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FERNANDO DE BARROS E SILVA
USP, polícia e demagogia
SÃO PAULO - "Não se deve caluniar abstratamente a polícia". É conhecida a resposta do filósofo
Theodor Adorno à reprovação que
lhe fazia, dos EUA, Herbert Marcuse pelo fato de ter recorrido à força
policial para barrar estudantes que
tinham invadido o Instituto de Pesquisa Social, em Frankfurt, no início de 1969. A polícia, escreve Adorno numa das célebres cartas ao
amigo, "tratou os estudantes de
maneira incomparavelmente mais
tolerante do que estes a mim".
A USP não é a Escola de Frankfurt, 2009 não é 1969 e Suely Vilela
não é... bem, a reitora já disse ser
adepta dos livros de autoajuda. Alguém dirá, além disso, que há razões nada abstratas para criticar a
ação da polícia no campus, o despreparo para lidar com situações
deste tipo entre elas.
Sim, ninguém pode de boa-fé desejar a universidade ocupada. Sim,
a reitora é uma figura lamentável, e
sua gestão, ruinosa. Mas quando os
"progressistas" da USP vão ter coragem intelectual para criticar também o comportamento autoritário
de uma minoria de funcionários
grevistas que intimidam colegas e
querem impor ao conjunto da universidade o que há de pior e mais
privado no espírito corporativo?
Quando dirão que luta social e
vandalização de patrimônio público não são nem devem ser sinônimos? Quando chamarão pelo nome
o "fascismo de esquerda" de grupelhos pautados por estupidez teórica
e desprezo sistemático pelos direitos dos outros?
Coube ao professor Dalmo Dallari, um veterano das causas democráticas, a intervenção mais lúcida,
honesta e destemida a respeito do
imbróglio uspiano. Em entrevista à
Folha, na sexta, ele diz coisas como:
a polícia que cumpre uma ordem
judicial para proteger o bem público não é a polícia da ditadura; a pauta dos grevistas é desconexa e seus métodos são intoleráveis; a reitora
é fraca, mas sua destituição agora
desmoralizaria a instituição.
Eis, para os que não querem ficar
presos a clichês mal digeridos da
cultura meia-oito, um bom ponto
de partida para o debate.
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