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A sete chaves
Numa vitória do Estado contra a sociedade, Planalto ensaia recuo na promessa de dar acesso a papéis sigilosos após um máximo de 50 anos
Sob argumentos nada claros, o
governo federal indica ter voltado
atrás na promessa de empenhar-se pelo fim do sigilo eterno nos documentos oficiais do país.
Pela lei atual, os papéis de teor
considerado "ultrassecreto" ficam
30 anos inacessíveis ao público, e
esse prazo pode ser renovado indefinidamente. A Câmara dos Deputados decidiu, no ano passado,
diminuir para 25 anos o tempo do
sigilo, autorizando sua renovação
por uma vez apenas.
Mesmo levando em conta a
eventual gravidade das informações contidas em papéis do tipo,
um total de 50 anos para sua divulgação não parece imprudente.
O projeto da Câmara foi encaminhado ao Senado Federal; a presidente Dilma Rousseff comprometera-se a apoiar sua votação tal como o texto se encontrava.
Recuou, entretanto. Ontem, a
nova ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, acrescentou
a isso a disposição do governo de
manter a renovação do prazo do
sigilo por tantas vezes quanto se
considerar necessário.
Impede-se, assim, o acesso a informações que, em última análise,
não são propriedade do governo,
mas de toda a sociedade.
Vieram de dois antigos governantes, segundo se noticia, gestões para manter indefinidamente
a guarda dos segredos de Estado.
Os ex-presidentes José Sarney e
Fernando Collor, hoje senadores,
respectivamente, pelo PMDB do
Amapá e pelo PTB de Alagoas,
manifestaram suas preocupações.
Considerando-se as datas em
que ocuparam a Presidência da
República, ambos estariam preservados de divulgações inconvenientes por um bom tempo.
Estaria então sendo avaliado,
pela ótica dos ex-presidentes, o
perigo da divulgação de fatos ainda mais remotos? Quais?
Eis o mistério. Fala-se em acordos celebrados há mais de um século, relativos às fronteiras do
país. À medida que se aponta para
assuntos desse tipo, contudo, o
segredo se torna paradoxal: vêm a
público os seus motivos (ou pretextos), mas não seus termos.
Só resta a impressão de que algo -não se sabe o quê, e talvez
qualquer outra coisa também-
deve ficar escondido. O sigilo justifica o sigilo, eternamente.
Compreende-se a necessidade
de cautela. Mas é comum, nas relações entre Estado e sociedade,
que o argumento termine levando
a abusos muito além dos supostos
motivos que a originaram.
Como que movido pela própria
natureza, o Estado resiste ao julgamento da opinião pública, mesmo em assuntos recobertos pela
pátina do tempo. Pela intensidade
da reação, contudo, pode-se inferir o quanto de democracia, ou de
autoritarismo, há em seus atos.
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