São Paulo, quarta-feira, 15 de junho de 2011

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RUY CASTRO

Luluzinha no poder

RIO DE JANEIRO - Depois de uma vida inteira no banco do copiloto dos carros -em situação privilegiada para observar se a pessoa dirige bem ou não-, continuo sem entender o preconceito da maioria dos homens contra as mulheres ao volante. Pela minha experiência, homens e mulheres dirigem bem ou mal por igual. E muitas mulheres dirigem excepcionalmente bem.
Uma amiga, por exemplo, é a rainha da manobra. Não há vaga -por mais apertada, de ângulo impossível, numa rua movimentada e na hora do rush- que a assuste. Outro dia, em Copacabana, ao ver que ela ia tentar botar o carro numa dessas vagas, os rapazes tomando chope e mascando palito na calçada do botequim defronte prepararam-se para rir. Quinze segundos depois, com uma reles ré e um simples acerto, tudo de primeira, o carro estava na vaga. Os rapazes a aplaudiram e queriam lhe pagar um chope.
Outra amiga é capaz de dirigir, falar ao celular, trocar o CD, maquiar-se, beijar o namorado, comer um sanduíche e tomar Coca-Cola, tudo ao mesmo tempo, com apenas duas mãos e uma boca -e sem tirar um fino do ônibus ou matar um motoboy. É verdade que, com esse frenesi, pode estar cometendo uma ou duas infrações, mas isso não a desabona. Apenas confirma uma tese minha, a de que, um dia, só as mulheres dirigirão carros -e melhor do que qualquer homem.
Pois já dispomos de uma prévia dessa previsão. Antes de tomar o poder nas ruas, elas o tomaram nos gabinetes. Neste momento, em Brasília, temos a presidente da República, a ministra-chefe da Casa Civil e outras nove ministras de Estado, inclusive a de Relações Institucionais, recém-nomeada. É Luluzinha no poder, e já não era sem tempo.
Dizem que são mulheres muito duras. Não sei -a única que conheço não é. Mas, se forem, não o serão por muito tempo. Nada como o poder, e sua prática de toma lá dá cá, para amolecer qualquer casca.


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