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Ataque à imprensa
Apuração exemplar de crime contra repórter e técnico de TV é necessária para evitar a banalização desse tipo de atentado
O
SEQÜESTRO neste fim
de semana do repórter
Guilherme Portanova
e do auxiliar técnico
Alexandre Calado, ambos da TV
Globo, foi um passo temerário
nos métodos do crime organizado paulista. O alvo da intimidação não se restringiu aos dois
profissionais, tampouco à emissora em que trabalham. Tratou-se de um atentado contra a imprensa, de cuja liberdade depende, em grande medida, a própria
democracia.
Quando bandidos arrebatam
um jornalista e condicionam a
sua libertação à transmissão de
uma mensagem pela TV que o
emprega, é o direito à informação que está sob ameaça.
Esta Folha se solidariza com a
Rede Globo pela decisão difícil
que teve de tomar, diante da
ameaça covarde contra a vida de
seu repórter. Felizmente, Portanova e Calado saíram fisicamente íntegros do episódio.
Esse crime, no entanto, é grave
demais -suas implicações, é
bom reiterar, transcendem a esfera dos protagonistas imediatos- para que baste a soltura dos
reféns. Ou as autoridades reagem de imediato e de modo
exemplar, identificando rapidamente os autores e os mandantes do seqüestro, ou o que é por
ora um episódio isolado na ação
do chamado PCC se tornará o
primeiro ato de uma série.
Não podemos tolerar que o Estado mais rico e populoso do
Brasil se submeta a coerção fascista comparável à que cartéis da
droga e guerrilhas que um dia foram de esquerda chegaram a
exercer sobre os meios de comunicação na Colômbia. Só às piores tiranias se compara o poder
liberticida de gangues que seqüestram e matam a fim de subjugar o Estado de Direito.
Não há de estar inquieta a facção criminosa paulista necessariamente porque se sinta mais
poderosa. O fato de ser levada a
aumentar o grau de descaramento de suas ações atesta que
os interesses dos líderes da quadrilha estão sendo seriamente
contrariados. O fato de vociferar
contra o Regime Disciplinar Diferenciado (o que isola chefes
criminosos nas penitenciárias)
confirma que o dispositivo é
mesmo eficaz contra esse tipo de
organização e que seu uso deve
ser ampliado.
Ocorre que o terror também é
filho da impotência. É comum
que grupos, ao enveredarem por
esse caminho, testem o tempo
todo novas formas de espalhar o
pânico na população, minimizando custos e riscos. As possibilidades abertas pelos ensaios
terroristas do PCC fora dos muros dos presídios, portanto, exigem das autoridades inovações
em sua capacidade de resposta.
Não pode ser frágil nem fria a
resposta do poder público no
momento em que a porta de entrada para a intimidação contra
a imprensa foi aberta. É dever da
polícia, do Ministério Público, da
Justiça e de toda a sociedade
afirmar com energia incomum
que quem trilhar esse caminho
incorrerá em um risco altíssimo.
Caso contrário, a apuração e a
circulação de informações -um
pilar consagrado da democracia- estarão sob risco de seqüestro no Brasil.
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