São Paulo, segunda-feira, 15 de agosto de 2011

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Choque elétrico

Indústria brasileira padece com custo elevado da energia gerada no país; renovação de concessões deve ser utilizada para obter redução de tarifas

A matriz energética brasileira tem como base a geração hidrelétrica, em tese barata. Muitas das principais usinas geradoras são antigas e já tiveram seu capital amortizado. Mesmo assim, o país é pouco competitivo na área.
Segundo estudo da Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro), o preço da energia para a indústria no Brasil (R$ 329 por megawatt-hora) é 53% superior à média mundial. Comparado às tarifas de China, Rússia e Índia, a diferença soa mais gritante: um custo 134% maior.
O estudo aponta que só a parte da tarifa referente a custos de geração, transmissão e distribuição (GTD) já supera o preço final da energia nos três maiores parceiros comerciais do Brasil, China, Estados Unidos e Argentina. Para alcançar padrões internacionais, o custo de GTD precisaria cair 35%.
Dois elementos encarecem a tarifa: regulação e impostos.
No que se refere à regulação, há uma oportunidade importante à frente para reduzir custos: as concessões existentes começam a vencer em 2015 para mais de 50 unidades geradoras (federais e estaduais), dezenas de milhares de quilômetros de linhas de transmissão e várias distribuidoras.
Pela lei atual, as concessões não podem ser prorrogadas sem novas licitações. A alternativa defendida pelas concessionárias é mudar a lei para permitir uma renovação onerosa. Seja qual for o caminho adotado pelo governo e pelo Congresso, é importante que se privilegie uma redução de custos no novo regime, em especial da geração, que representa mais da metade do valor de GTD.
A renovação das concessões a custos mais baixos, sozinha, não é panaceia. Dificilmente o país terá energia barata sem reduzir sensivelmente os impostos e encargos do setor, que representam quase a metade do valor da tarifa.
Há, segundo a Firjan, 14 encargos setoriais que representam 17% da tarifa. O restante são impostos federais e estaduais (PIS/Cofins e ICMS, respectivamente), com alíquota média de 31,5%, o que parece um recorde mundial.
Há também idiossincrasias bem brasileiras, tais como a inclusão do ICMS na base de cálculo do próprio tributo, o que foge a qualquer racionalidade. Mesmo assim, tal prática foi recentemente considerada constitucional pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
O preço da energia elétrica no Brasil atinge especialmente os setores industriais. Tendo em vista a infinidade de fatores prejudiciais à competitividade da indústria nacional, como o câmbio valorizado, o alto custo de energia torna ainda mais alarmante sua desvantagem no mercado mundial.
A renovação das concessões oferece ótima ocasião para iniciar uma significativa redução de custos. Cabe ao governo federal mostrar visão estratégica para dar um passo firme na direção correta.


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