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Males a extirpar
Enquanto Dilma Rousseff revela traço de personalidade inadequado à função a que aspira, presidente Lula dá lições antidemocráticas
Ao dispensar à ministra da Casa
Civil, Erenice Guerra, o tratamento de "ex-assessora" e referir-se às
revelações sobre tráfico de influência no âmbito da pasta como
um episódio longínquo, quase de
outro planeta, a candidata Dilma
Rousseff expôs um traço de sua
personalidade nada recomendável a quem pleiteia a Presidência.
Erenice Guerra, como se sabe,
foi colaboradora íntima, o braço
direito da postulante petista no
período em que ela esteve investida das funções de ministra de Estado. Consultora jurídica do Ministério de Minas e Energia, recebeu de Dilma o convite para a Secretaria Executiva da Casa Civil e
obteve seu endosso para substituí-la num dos mais importantes
ministérios da República.
As atividades suspeitas de
membros da família Guerra e da
própria ministra, que escalou um
"laranja" para ocultar sua participação numa empresa, antecedem
o momento em que Dilma deixou
o cargo. É uma estratégia evasiva,
para não dizer covarde, a candidata pretender agora eximir-se de
responsabilidades.
Se é fato que nada, até aqui, demonstra a participação da criatura
de Lula em esquemas para arrancar comissões de empresas interessadas em fazer negócios com o
governo, é impossível ignorar seu
papel de fiadora da atual titular da
pasta. É uma farsa tratar Erenice
Guerra como uma funcionária
mais ou menos obscura que, longe da vista da chefe, se viu ludibriada por um filho afoito.
A reação de Dilma não é inédita.
Ela repete a atitude do presidente
à época do escândalo do mensalão, quando recorria ao famigerado bordão "eu não sabia" a cada
novidade estampada nas páginas
dos jornais. Como se sabe, foi a
mesma Casa Civil, nas adjacências da sala presidencial, o gabinete onde se urdiram as tramas
que levaram ao afastamento do
ministro José Dirceu -o "chefe da
quadrilha", no dizer do Procurador Geral da República.
Diante das notícias negativas e
dos questionamentos, os donos
do poder reagem como de hábito:
esquivam-se das perguntas, atacam a imprensa e comportam-se
como se tudo não passasse de um
complô que os dispensaria de dar
explicações aos eleitores.
Essa concepção tosca, senão
autoritária, das relações entre Estado e sociedade produziu anteontem uma nova pérola em discurso do chefe do Estado -ou melhor, do cabo eleitoral petista, papel do qual não se afasta em nenhum momento.
Lula considerou que é preciso
"extirpar" o DEM da política brasileira. Compreende-se que o mandatário guarde ressentimento da
declaração do ex-senador Jorge
Bornhausen, em 2005, sobre a
perspectiva de o Brasil ver-se livre
da "raça" petista em decorrência
do mensalão.
Se a opinião de Bornhausen foi
condenável, a de Lula é inconcebível. É chocante que o presidente, num regime democrático, manifeste o desejo de eliminar um
partido político. Por mais que desgoste das teses do antigo PFL, se
tivesse atingido um mínimo de
compreensão acerca do funcionamento da democracia Lula deveria ser o primeiro a zelar pela pluralidade de opiniões e agremiações partidárias.
Há outras situações que poderiam -e deveriam- ser extirpadas de nossa política, a começar
pela corrupção, o patrimonialismo e a partidarização do Estado.
Infelizmente continua-se a dar
abrigo aos que posam de éticos na
oposição mas se entregam aos
malfeitos na primeira oportunidade que o poder lhes oferece.
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