Esta Folha já teve a oportunidade de criticar em editorial (18/5/ 04) a precariedade dos índices oficiais de desemprego. Há uma espécie de "apagão" estatístico na Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE, uma vez que ela é realizada com base em informações colhidas apenas nas seis principais regiões metropolitanas -São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Salvador e Recife.
Se as dimensões do país e as diferenças regionais já justificariam a ampliação da pesquisa, o crescente dinamismo do agronegócio nos últimos anos acentuou a percepção de que os números apresentados pelo IBGE não podem ser interpretados como um retrato abrangente do mercado de trabalho brasileiro.
Agora, um estudo preparado pela consultoria LCA, a pedido da Folha, quantificou a presumida defasagem. O levantamento, voltado para o período de 2001 a 2003, baseou-se em dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), também de responsabilidade do IBGE. Detectaram-se diferenças significativas entre o desemprego nas grandes cidades e no restante do país.
Em 2001, por exemplo, a taxa nas seis regiões metropolitanas, que representam apenas 26% da PEA (População Economicamente Ativa), foi de 12,83%. Já nas demais áreas, que abarcam 74% da PEA, o índice, no mesmo ano, atingiu 8,13%. Divergências também foram constatadas no que tange à trajetória do desemprego, que oscilou de maneira distinta nas duas frentes observadas. Em 2002, por exemplo, enquanto a taxa do restante do Brasil caía para 7,7%, a das seis regiões metropolitanas se elevava para 13,25%.
O estudo reforça a importância de produzir estatísticas mais representativas, como o governo anunciou que fará a partir de 2006. Elas forneceriam instrumentos valiosos para as decisões econômicas e evitariam que a falta de clareza sobre aspectos cruciais, como o mercado de trabalho, fosse preenchida com impressões e especulações, muitas vezes contaminadas por interesses políticos.


Próximo Texto: Editoriais: ATMOSFERA CARREGADA
Índice