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CLÓVIS ROSSI
O Brasil e o espelho mexicano
SÃO PAULO- Antes que Fernando
Henrique Cardoso e Luiz Inácio
Lula da Silva aderissem à mais dura
ortodoxia, os neoliberais do planeta
tomavam o México como modelo-laboratório. Com uma vantagem
sobre o Brasil, do ponto de vista
neoliberal: fizera acordo de livre comércio com os Estados Unidos (e o
Canadá), tornando-se ainda mais
satélite norte-americano.
Convém, portanto, revisitar o
México, porque é também olhar para o Brasil, pela mão não dos "jurássicos" ou "radicais", como são chamados todos os que ousam apontar
problemas no modelo predominante. Vamos de mãos dadas com J.
Bradford DeLong, professor de
Economia da Universidade da Califórnia (Berkeley) e subsecretário
do Tesouro com Bill Clinton.
DeLong aponta "grandes fortalezas" da economia mexicana (as
mesmas que são macaqueadas sobre o Brasil): "ambiente macroeconômico estável, prudência fiscal,
inflação baixa, pequeno risco-país,
força de trabalho flexível, um sistema bancário solvente e fortalecido,
programas bem-sucedidos de redução da pobreza" (no caso mexicano,
o especialista cita ainda os ganhos
elevados com o petróleo).
Não obstante, o crescimento desde o acordo com os EUA não passou
de 3,6% ao ano na média, o que, acoplado ao crescimento populacional
(2,5%) e a uma crescente desigualdade, significa que "a grande maioria dos mexicanos não vive hoje melhor do que há 15 anos".
DeLong diz que o único aspecto
bem-sucedido no desenvolvimento
do México se deve à migração para
os Estados Unidos e às remessas
dos emigrantes. O Brasil também,
no atual e no anterior governo, bateu recordes de emigração.
Como a disputa presidencial está
reduzida a partidários do mesmo
modelo, ainda que pretendam diferenciar-se, algum neoliberal tupiniquim terá a honestidade de escrever logo mais o que DeLong escreveu sobre o México?
crossi@uol.com.br
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