São Paulo, domingo, 15 de outubro de 2006

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CLÓVIS ROSSI

O Brasil e o espelho mexicano

SÃO PAULO- Antes que Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva aderissem à mais dura ortodoxia, os neoliberais do planeta tomavam o México como modelo-laboratório. Com uma vantagem sobre o Brasil, do ponto de vista neoliberal: fizera acordo de livre comércio com os Estados Unidos (e o Canadá), tornando-se ainda mais satélite norte-americano.
Convém, portanto, revisitar o México, porque é também olhar para o Brasil, pela mão não dos "jurássicos" ou "radicais", como são chamados todos os que ousam apontar problemas no modelo predominante. Vamos de mãos dadas com J. Bradford DeLong, professor de Economia da Universidade da Califórnia (Berkeley) e subsecretário do Tesouro com Bill Clinton.
DeLong aponta "grandes fortalezas" da economia mexicana (as mesmas que são macaqueadas sobre o Brasil): "ambiente macroeconômico estável, prudência fiscal, inflação baixa, pequeno risco-país, força de trabalho flexível, um sistema bancário solvente e fortalecido, programas bem-sucedidos de redução da pobreza" (no caso mexicano, o especialista cita ainda os ganhos elevados com o petróleo).
Não obstante, o crescimento desde o acordo com os EUA não passou de 3,6% ao ano na média, o que, acoplado ao crescimento populacional (2,5%) e a uma crescente desigualdade, significa que "a grande maioria dos mexicanos não vive hoje melhor do que há 15 anos".
DeLong diz que o único aspecto bem-sucedido no desenvolvimento do México se deve à migração para os Estados Unidos e às remessas dos emigrantes. O Brasil também, no atual e no anterior governo, bateu recordes de emigração.
Como a disputa presidencial está reduzida a partidários do mesmo modelo, ainda que pretendam diferenciar-se, algum neoliberal tupiniquim terá a honestidade de escrever logo mais o que DeLong escreveu sobre o México?


crossi@uol.com.br

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