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CLÓVIS ROSSI
Surpresa? Não. Asco? Sim
MADRI - Não dá para dizer que me
surpreende a campanha que Marta
Suplicy lançou contra Gilberto
Kassab.
Afinal, quando ela recomendou
às vítimas do apagão aéreo no ano
passado que relaxassem e gozassem, escrevi aqui mesmo que sua
frase era parente muito próxima do
"estupra, mas não mata", de Paulo
Maluf. Uma e outra revelam uma
cultura de profundo desprezo pelas
vítimas, quaisquer que sejam os
eventos que as causam.
Quem mostra dessa maneira asquerosa a sua pior face reincide fatalmente. Marta reincidiu agora.
Ajuda-memória: quando Eduardo Suplicy suspendeu uma de suas
campanhas para procurar o eixo,
Paulo Maluf insinuou para quem
quisesse ouvir que a culpa era do
comportamento conjugal de Marta,
então casada com Suplicy.
A candidata do PT repete agora o
mesmo tipo de insinuação.
Surpreende, sim, que não haja a
mesma veemência no repúdio,
principalmente no próprio PT e na
intelectualidade que se acha progressista e é ligada ao partido.
O presidente da República, por
exemplo, preferiu dizer que não vira os ataques e que, portanto, não
poderia comentá-los, durante entrevista coletiva em Toledo, Espanha. Duvido que não tivesse sido informado, mas sou forçado a lhe dar
o benefício da dúvida.
Aqui, mais um ajuda-memória:
na campanha presidencial de 1989,
Fernando Collor usou o mesmo asqueroso método de Marta ao puxar
o tema de Lurian, filha de seu adversário Lula. Derrubou animicamente Lula para o debate seguinte
entre eles, e há gente muito próxima do hoje presidente que atribui a
derrota a esse golpe vil.
Em qualquer circunstância, pessoas honestas têm a obrigação de
repudiar vilezas. Lula, vítima de
uma delas, não tem o direito de escudar-se na lealdade partidária para calar. Lealdade, nesse caso, é só
com a ética.
crossi@uol.com.br
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