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ANTONIO DELFIM NETTO
Pânico
inútil
É CADA VEZ mais evidente que
Paulson e Bernanke cometeram um erro catastrófico na
sua avaliação das conseqüências da
quebra do Lehman Brothers.
Supondo que a violação do princípio do "grande demais para falir"
interromperia a cadeia de desconfiança que se instalara nos mercados, eles puseram em marcha um
processo que está longe de poderem controlar. Sua propagação está cobrando um preço gigantesco,
que será pago pela economia real
de todos os países do mundo. Graças aos abusos, à fértil imaginação
que dispensa a moralidade e aos
equívocos da política monetária
(que durante longos anos não teve
a humildade de conformar-se com
a teoria), o sistema financeiro, que
deveria servir à economia real (a do
PIB e do emprego), ameaça
destruí-la.
Os agentes financeiros estavam
desconfiados com a crise do "subprime". E os cidadãos estavam assustados com a queda dos preços
dos imóveis (que representam 1/3
de sua "riqueza"). Nesse quadro de
profunda ansiedade, a quebra do
Lehman promovida pela autoridade foi o epicentro de um terremoto
financeiro mundial, que, na escala
logarítmica Richter, foi superior a
9, ou seja, altamente destrutivo.
A história vai julgar duramente a
competência de Bernanke, um excelente economista e historiador
da crise de 1929, e a argúcia de
Paulson, um profissional treinado
que presidiu durante anos a Goldman Sachs. Vai ser muito difícil entender como a "boa" teoria somada
à "boa" prática terminou em tal
desastre.
Por outro lado, é fácil entender o
comportamento aleatório (não irracional, como dizem alguns economistas) dos aplicadores. Ele
lembra os estouros das boiadas
quando assustadas por um estalo.
O mesmo acontece com os violentos terremotos: não sabendo onde
encontrar abrigo, corre-se em
qualquer direção. Trata-se pura e
simplesmente de um estado de pânico. Todos querem sair e descobrem que a ampla porta de entrada
(a ilusão vendida pela "ciência" dos
bancos de investimento, que haviam descoberto como medir o risco e oferecer retorno garantido) é
agora uma minúscula abertura de
saída, onde vão amargar o custo de
terem acreditado no milagre do
máximo lucro com o mínimo de
risco.
Não existe abrigo seguro. Todos
vão pagar um preço pela irresponsabilidade de poucos, e uns poucos,
de sangue frio e financeiramente
líquidos, vão ficar ainda mais ricos.
Se você não tem nem sangue-frio
nem liqüidez, fique quieto e espere.
Um dia a confiança voltará, como
voltou depois das dezenas de crises
do passado. Não fuja de casa para
morrer na rua...
contatodelfimnetto@uol.com.br
ANTONIO DELFIM NETTO escreve às
quartas-feiras nesta coluna.
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