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Assédio na Vale
Em ataque simultâneo, com digitais do Planalto, está em curso plano de reestatizar, para efeitos práticos, a mineradora
O QUE se manifestava na
forma de críticas isoladas à gestão da mineradora Vale, por parte
do governo federal e seus aliados,
assume agora feições claras de
uma ação concertada, concebida
no Planalto com o intuito de solapar o presidente da empresa,
Roger Agnelli -indicado pelo
Bradesco, após acordo entre
acionistas controladores.
Os sinais recentes dessa ofensiva partiram, com coincidência
de datas, da ministra Dilma
Rousseff e do empresário Eike
Batista, disposto a fazer o papel
de ventríloquo do presidente Lula. Em viagem ao Pará, no último
feriado, a aspirante petista à sucessão presidencial aproveitou a
audiência da festa religiosa do
Círio de Nazaré para dizer que o
governo vê como "questão de
honra" a retomada do plano de
investimentos no polo siderúrgico de Marabá por parte da Vale.
No mesmo dia 11, em entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo", Eike Batista parecia conhecer a fala da ministra. Além de
criticar opções estratégicas da
mineradora, assumia o interesse
de tornar-se seu acionista e manifestava apoio à ideia de que o
petista Sérgio Rosa, presidente
da Previ (fundo de pensão do
Banco do Brasil), venha ocupar o
lugar de Agnelli.
Muito mais do que uma ingerência, está em jogo um esforço
coordenado para que a Vale venha a ser gerida por figuras simpáticas, associadas ou subordinadas ao governismo. A plataforma mal disfarça a intenção de
reestatizar, para todos os efeitos
práticos, a companhia.
Tamanho retrocesso não seria
novidade neste governo. Não faz
um ano, o Planalto patrocinou a
compra da Brasil Telecom pela
Oi. Foi preciso alterar normas,
manobrar resistências na Anatel
e conseguir o aporte de dinheiro
público, via repasses bilionários
do BNDES e do Banco do Brasil,
para viabilizar um negócio cujo
resultado foi o surgimento de um
oligopólio nos serviços de telefonia fixa no país.
No caso da Vale, o governo
reinvoca um suposto interesse
nacional para legitimar a tentativa de convertê-la em instrumento político. A empresa sob ataque
especulativo da sanha estatizante é, porém, caso exemplar de
privatização bem-sucedida.
Em 1997, quando foi privatizada, a Vale tinha cerca de 10 mil
empregados; hoje conta com 60
mil -soa como mero pretexto,
portanto, que o Planalto tome
cerca de 4 mil demissões recentes na empresa, por conta da crise mundial, para desestabilizar
sua direção. Seu valor de mercado passou de US$ 8 bilhões para
US$ 125 bilhões. O lucro líquido
foi multiplicado por 29.
Se há algo que o governo deveria fazer em relação à Vale é retirar, complemente, seus tentáculos da mineradora.
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