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Acupuntura
Em que pese o esfumaçamento
das fronteiras entre as esferas pública e privada, que tem sido uma
das marcas negativas do atual governo, é com uma nota de surpresa que se recebe a revelação de
que o Executivo federal contratou
o filho do acupunturista do presidente Lula para prestar serviços
na Casa Civil.
Comparado a casos como o
mensalão ou o tráfico de influência naquele mesmo ministério,
trata-se de episódio menor -mas
ainda assim simbólico. Mais uma
vez o PT, no exercício do poder,
turva os limites entre o pessoal e o
impessoal ao premiar apaniguados com cargos estatais.
Gu Zhou-Ji, que também ajuda
o pai no acompanhamento terapêutico da candidata Dilma Rousseff, recebe R$ 4.000 mensais para atender servidores da pasta.
Nomeado em outubro de 2009 como "assessor técnico", o servidor
tem aplicado seus conhecimentos
curativos em funcionários da Casa
Civil e "dependentes", segundo
seu próprio relato.
É notável a sem-cerimônia com
que a contratação foi realizada,
como se ninguém lembrasse que
não cabe ao contribuinte pagar a
conta de sessões de acupuntura
de uma parcela do funcionalismo.
Ainda mais quando o próprio terapeuta, e seu pai, prestam serviços
ao presidente da República e à
candidata que, quando ministra,
autorizou a sua contratação.
A vida pública torna-se uma extensão da vida doméstica. Por essa lógica seria aceitável que a lista
de "assessores técnicos" se ampliasse para contemplar outras categorias de profissionais -quem
sabe professores de ginástica ou
orientadores de estilo.
Consta que Lula e Dilma pagam
do próprio bolso as suas sessões
de acupuntura -apenas, satisfeitos com o resultado, resolveram
propiciar aos demais membros do
ministério os benefícios para a
saúde que têm auferido.
É uma nobre preocupação, mas
o certo seria que, como qualquer
cidadão, os funcionários da Casa
Civil e seus dependentes arcassem
com as despesas da acupuntura
-o que dispensaria a aquisição de
funcionário público federal especializado nessa técnica milenar.
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