São Paulo, sexta-feira, 15 de novembro de 2002

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HISTÓRIA OBSCURA

A Polícia Federal do Rio de Janeiro terá de encontrar uma outra explicação para o assassinato do assistente de cozinha Antônio Abreu na carceragem da delegacia da corporação no centro da capital fluminense. Com o laudo do IML, que confirma indícios de uma morte bárbara após tortura, cai por terra a hipótese, que consta de boletim de ocorrência registrado pelo delegado responsável pelo plantão, de que o homicídio teria sido praticado por companheiros de cela de Abreu.
Para o secretário nacional dos Direitos Humanos, Paulo Sérgio Pinheiro, a versão do delegado não passa de "uma história da carochinha, insustentável". Desde que se soube do assassinato, a hipótese de que o crime fora cometido por um dos dois homens que faziam companhia a Abreu na cela já soava despropositada. Os dois indivíduos estavam feridos, pois haviam sido baleados. Abreu, por sua vez, dera entrada na delegacia fisicamente preservado. E o crime, pela descrição do laudo da necropsia, foi perpetrado por espancamento, com o uso de objeto contundente.
Abreu foi preso como suspeito de ter assassinado um policial federal lotado na mesma delegacia em que foi encarcerado. Ou seja, era vítima em potencial de um ato de vingança. Essa é a hipótese a ser investigada.
Nenhum cidadão está a salvo -seja ele culpado ou inocente- quando policiais se dão o direito de torturar, "julgar" e "executar penas". A prática, infelizmente rotineira no Brasil e motivo de reiteradas condenações internacionais do país, é vergonhosa e só pode ser coibida aplicando-se o rigor da lei. A PF, corporação ligada diretamente ao Executivo federal, deveria ser o exemplo máximo de respeito aos direitos humanos entre as polícias do país. Deveria, portanto, ser a primeira interessada em que se levem às últimas consequências as investigações desse caso e as punições dele decorrentes.


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