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SERGIO COSTA
A Bolsa ou as economias
RIO DE JANEIRO - Classe média,
ora! O IBGE duvida, mas, como não
consegue informações precisas do
andar de cima, carimba uma irreal
classificação social a quem paga caro para viver com dignidade. Classe
A? Nem por vaidade ou ilusão.
Do fundo do poço de dívidas como pai de dois filhos em universidade com preços celestes pagos aos
padres na Terra, e uma, pequenina,
em creche com mensalidades imediatas de terceiro grau, foi difícil
evitar uma pontinha de inveja.
O amigo -de quase três décadas,
mas sem tantos filhos- bebeu outra taça de vinho do Mercosul e estufou o peito: "Qualquer dia ainda
vivo disso". O "disso" a que ele, neo-home broker, se referia era a Bolsa
de Valores. Havia pego uma boa
parte do dinheiro que economizara
-ou recebera como indenização de
empregos que o rejeitaram- e investido no "mercado". Se deu bem.
Ganhou, num curto espaço de
tempo, muito mais do que as aplicações tradicionais pingavam nas
rendas fixas da vida o ano inteiro.
Tinha descoberto, feliz, onde ficava
a chave do pavimento superior.
Mas veio a tal crise do mercado financeiro, anfitrião da festa a que ele
havia sido convidado por ter excedentes -às contas- no banco. E
ela, a crise, levou não só o que havia
ganho no curto período em que
atuou como "especulador" como
boa parte de suas economias. De
brinde, deixou-lhe um vício. Corre
o tempo todo ao computador para
acompanhar a gangorra das ações.
Amanhece ligadaço nos humores
do mercado asiático. Quase pira.
Foi preciso comprar mais vinho
-no cartão de crédito- para ouvir
suas lamúrias com a crise. Sorte que
arranjou um bom emprego. Como
ganha mais do que gasta, recompõe,
conservador, a poupança. Virou gato escaldado e, puxado de volta à
realidade classe média, paranóico
com a água fria, ou mesmo morna,
em que nadam tubarões.
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