São Paulo, sábado, 15 de novembro de 2008

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SERGIO COSTA

A Bolsa ou as economias

RIO DE JANEIRO - Classe média, ora! O IBGE duvida, mas, como não consegue informações precisas do andar de cima, carimba uma irreal classificação social a quem paga caro para viver com dignidade. Classe A? Nem por vaidade ou ilusão.
Do fundo do poço de dívidas como pai de dois filhos em universidade com preços celestes pagos aos padres na Terra, e uma, pequenina, em creche com mensalidades imediatas de terceiro grau, foi difícil evitar uma pontinha de inveja.
O amigo -de quase três décadas, mas sem tantos filhos- bebeu outra taça de vinho do Mercosul e estufou o peito: "Qualquer dia ainda vivo disso". O "disso" a que ele, neo-home broker, se referia era a Bolsa de Valores. Havia pego uma boa parte do dinheiro que economizara -ou recebera como indenização de empregos que o rejeitaram- e investido no "mercado". Se deu bem.
Ganhou, num curto espaço de tempo, muito mais do que as aplicações tradicionais pingavam nas rendas fixas da vida o ano inteiro. Tinha descoberto, feliz, onde ficava a chave do pavimento superior.
Mas veio a tal crise do mercado financeiro, anfitrião da festa a que ele havia sido convidado por ter excedentes -às contas- no banco. E ela, a crise, levou não só o que havia ganho no curto período em que atuou como "especulador" como boa parte de suas economias. De brinde, deixou-lhe um vício. Corre o tempo todo ao computador para acompanhar a gangorra das ações. Amanhece ligadaço nos humores do mercado asiático. Quase pira.
Foi preciso comprar mais vinho -no cartão de crédito- para ouvir suas lamúrias com a crise. Sorte que arranjou um bom emprego. Como ganha mais do que gasta, recompõe, conservador, a poupança. Virou gato escaldado e, puxado de volta à realidade classe média, paranóico com a água fria, ou mesmo morna, em que nadam tubarões.


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