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RICARDO YOUNG
G20, câmbio e sustentabilidade
Mais uma reunião multilateral, nenhum acordo razoável. Desta vez, a crise cambial,
se não contida, ameaça literalmente "derreter" os ativos de
países, empresas e pessoas.
Na semana passada, o G20
reuniu-se em Seul, na Coreia,
com o objetivo de tentar estabelecer controles mínimos sobre o sistema financeiro internacional, para evitar, mais
uma vez, a bancarrota. Novamente, os aparentes esforços
foram quase inúteis.
Os chefes de Estado ali presentes concordaram em assinar um documento com "recomendações" -como se recomendações bastassem! O sistema financeiro global doente, e a "junta médica" faz recomendações... Dentre elas, o
G20 legitimou os controles dos
países para conter o fluxo de
dólares e a desvalorização das
moedas locais; ampliou a representação dos emergentes
no FMI; e reconheceu que os
países desenvolvidos terão de
ser mais vigilantes em relação
aos efeitos negativos de suas
políticas cambiais.
Decisões mesmo só em
2011, em uma prática cada vez
mais comum de "empurrar
com a barriga" tudo que exige
coragem e determinação. Enquanto isso, mais de 160 países que não fazem parte do
G20 -e não têm voz em nenhum organismo multilateral- precisam "se virar" para
fazer frente à queda de braço
entre EUA e China, que não
parecem dispostos a abandonar as desvalorizações constantes das suas moedas, como
forma de exportar mais e desafogar os seus deficits públicos.
Faltou vontade política ao
G20 para dar um basta nesta
farra cambial. A continuidade
destas políticas de desvalorização artificial vai aprofundar
a crise financeira e econômica
no mundo, ameaçando ainda
mais os cidadãos com desemprego e inflação, bem como
destruindo o comércio internacional. A indecisão do G20
em assumir atitudes mais contundentes para segurar a especulação financeira pode
acelerar os efeitos de outra crise que está apenas anunciada
e cujos efeitos mal conseguimos imaginar: a crise do modelo de civilização que adotamos -baseado no uso intensivo e perdulário dos recursos
naturais-, cuja decorrência
mais comentada, o aquecimento global, é apenas a ponta do iceberg. Como avestruzes, creem que a solução para
a economia global se limita a
fluxos financeiros e a consumo.
Sim, vivemos duas crises
que correm em paralelo e que
vão se cruzar em algum momento. Poucos entenderam
que não haverá solução para a
crise financeira se não encontrarmos a saída para o modo
de produzir e consumir que vigora desde o início da era industrial. Controlar e induzir o
capital para a inovação, para a
emergência de uma economia
verde, inclusiva e responsável. Este é o caminho para a
superação das ameaças.
Quanto tempo ainda para nos
convencermos?
RICARDO YOUNG escreve às segundas-feiras nesta coluna.
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