São Paulo, sábado, 15 de dezembro de 2007

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O Itamaraty reincide

PELA SEGUNDA vez em dois anos, o Itamaraty se alinha a algumas das piores tiranias para aliviar a pressão que países civilizados tentam exercer sobre o dirigente do Sudão, Omar al Bashir, por conta do genocídio de Darfur.
Como em 2006, o Brasil se aliou a nações africanas no Conselho de Direitos Humanos (CDH) da ONU. Atuou para amenizar o tom das críticas que a União Européia faria ao Sudão por não implementar as recomendações do grupo criado pelo próprio organismo para monitorar os direitos humanos no país.
O governo central de Cartum (capital do Sudão) é acusado de apoiar a milícia árabe Janjaweed, que promove assassinatos, estupros e "limpeza étnica" na região de Darfur, oeste do Sudão. Trata-se do pior genocídio em curso no mundo.
Desde que os conflitos eclodiram, em 2003, entre 200 mil e 400 mil pessoas, na maioria membros de grupos cristãos e animistas, já foram mortas, e mais de 2,5 milhões, obrigadas a deixar os seus lares.
Depois que a UE fracassou em seu intento de aprovar uma resolução mais dura, chegou-se à solução de consenso de estender por mais um ano o mandato da enviada especial de direitos humanos da ONU ao Sudão, Sima Samar, mas ela perdeu sua equipe de apoio de sete investigadores especiais, que não tiveram seus mandatos renovados.
A boa diplomacia reside na difícil arte de equilibrar-se entre o pragmatismo exigido pelos interesses comerciais e estratégicos do país e o apego a certos princípios universais. O Brasil deve manter relações e fazer negócios com todos os países, independentemente da natureza dos regimes. Mas em fóruns como o Conselho de Direitos Humanos não há motivo para afastar-se tanto da lógica dos princípios.


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