São Paulo, sexta-feira, 16 de janeiro de 2004

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POUCO TRABALHO

O resultado negativo do emprego industrial em São Paulo em 2003 -foram fechadas 1.351 vagas- não deve ser entendido unicamente como fruto de um ano de dificuldades, juros altos e crescimento praticamente nulo. Certamente o ambiente restritivo colaborou para o saldo negativo, mas é preciso considerar que, mesmo num ano ruim, esse foi o segundo melhor resultado desde 1995 -ficando atrás apenas de 2000, quando as contratações superaram as demissões com a criação de 27.416 vagas.
De 1995 a 2003, foram fechadas 670 mil vagas na indústria de São Paulo. Quando se observa como essa cifra se distribuiu ao longo do período, percebe-se que a grande reestruturação aconteceu de 1995 a 1998. Nessa quadra, o saldo negativo foi de 539 mil vagas. Não foram, no entanto, anos recessivos, com exceção de 1998, que terminou com estagnação. Em 1994, o PIB cresceu 4,2%, mas a indústria fechou cerca de 143 mil vagas. O que se verificou foi um processo de troca de produção local por importações, estimulado pela taxa de câmbio, paralelamente a ganhos de produtividade ocasionados por mudanças tecnológicas e de gestão -além das terceirizações.
Note-se que, a partir de 1999, quando o câmbio muda, o fechamento de vagas cai pela metade, sendo que no ano seguinte, em 2000, a indústria já emprega mais do que demite. Em 2001 e 2002, anos marcados pelo "apagão", pela crise argentina e pelas incertezas eleitorais, há nova retração no emprego industrial.
No ano passado, mesmo com o cenário de juros altos, não fossem fatores imprevistos que se concentraram em dezembro, o comportamento do emprego na indústria de São Paulo poderia ter sido estável ou ligeiramente positivo. Era essa, aliás, a expectativa da Fiesp, que se mostra otimista para este 2004.
Observe-se que, além da queda de dez pontos percentuais na taxa de juros ocorrida no segundo semestre, as exportações tiveram em 2003 papel relevante para impedir um desastre na indústria. Todavia uma expansão mais consistente, que represente melhora expressiva no mercado de trabalho, exigirá novos cortes nos juros e aumento dos investimentos.


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